“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”(cf Mt 16,13-19). Ora, se Cristo falou de “Minha Igreja” é justo perguntar: onde encontrar a Igreja de Cristo? Se era necessária a autoridade de Pedro nos inícios, não será ela ainda mais necessária na complexidade da história no futuro? Damos nesse artigo continuidade à nossa reflexão sobre a Igreja de Cristo. Nos artigo anteriores sobre o tema em pauta havíamos afirmado que entre a construção que Cristo fará da Igreja no decorrer da história e Pedro há uma relação íntima. É pela união com Ele, Cristo, pela fé, pelo batismo e pela eucaristia, que a Igreja é edificada. Mas quem é Cristo? Como ficamos unidos a Ele? Isso o Pai nos revela pelas palavras de Pedro. A fé em Cristo a ser professada e vivida é aquela que sai da boca de Pedro: “tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
Duas verdades fundamentais são afirmadas nessa profissão de fé: Jesus é o Messias, o Salvador e é o Filho do Deus vivo. O significado pleno da profissão de fé de Pedro nos é dado pelo conjunto das Escrituras Sagradas, sobretudo pelo Novo Testamento. A adesão a Cristo se faz pela adesão ao que as Escrituras revelam sobre Ele, sobre seus ensinamentos e sobre sua missão. A profissão de fé de Pedro abre-nos duas portas para compreender Jesus. A primeira se refere diretamente à sua missão e à expectativa mais profunda do povo judeu: “Tu és o Cristo”( messias). Compreender a missão messiânica de Jesus, reconhecê-lo como redentor de Israel e entender o modo e o significado da redenção e seu alcance universal só foi possível com a vinda do Espírito Santo.
A segunda se refere à sua relação com Deus: “Tu és o Filho do Deus vivo”. A primeira leva ao aprofundamento da relação de Jesus com a humanidade e à própria compreensão da condição humana, a segunda nos faz entrar no mistério de Deus. Jesus é a revelação do mistério do homem e do mistério de Deus. Ele é Deus com o Pai e com o Pai nos envia o Espírito Santo que, por sua vez, é Deus com o Pai e com o Filho, uma vez que pelo Espírito o Pai e o Filho se fazem presentes no ser humano como em sua morada. Ele revela quem é o ser humano, sua origem e seu destino e Ele salva o ser humano tomando para si a condição humana e oferecendo sua vida, como “Servo-filho”, por nós. Jesus é Deus e homem verdadeiro, nosso redentor que nos introduz na vida de Deus dando-nos a filiação divina. Tudo isso está contido como em uma semente na profissão de fé de Pedro. E as Escrituras Sagradas nos falam disso e nos dão acesso à verdade de Jesus Cristo, Messias e Filho do Deus vivo. Estas verdades centrais de nossa fé exigem uma constelação de outras verdades sem as quais elas não se sustentam. Por isso a Igreja as sintetizou no símbolo dos apóstolos, o nosso “Credo”. Isso significa que não precisamos mais de Pedro para termos segurança sobre o que cremos? Absolutamente não. Uma interpretação livre das Escrituras por um indivíduo ou por um grupo de indivíduos está sujeita a desvios. Assim foi desde o princípio. Uma primeira interpretação equivocada da Escritura atingia o coração da fé cristã. Foi de umsacerdote, chamado Ario. Sua doutrina ficou na história com o nome de Arianismo. Jesus Cristo, segundo Ario, não seria Deus com o Pai. O Verbo, o “Logos”, que se fez um de nós em Maria, teria sido criado por Deus e, através dele, Deus teria criado o mundo. Estava aí negada a fé na divindade de Cristo.
O Verbo é, embora perfeitíssimo, criatura do Pai, não só distinto, mas dissemelhante. Os bispos reunidos em Niceia (ano 325), com a aprovação do Papa Silvestre I, garantiram a verdadeira interpretação da Escritura definindo que o Filho – o Verbo ou Logos – era “consubstancial ao Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”, conforme rezamos até hoje no símbolo chamado Niceno-Constantinopolitano. Portanto, Jesus de Nazaré é o Verbo de Deus feito um de nós, nascido da Virgem Maria por ação do Espírito Santo. Mais tarde, um bispo, Nestório, dará também uma interpretação equivocada sobre o mistério da encarnação que levaria a afirmar que Jesus não é pessoalmente o Verbo, mas é um homem no qual o Verbo habita de forma especial. Maria é mãe do homem Jesus e não propriamente mãe do Verbo-Deus que nela se faz homem.
O Papa Celestino I apoiou São Cirilo que combatia Nestório e, em 431, um Concílio de bispos em Éfeso, aprovado pelo Papa, afirmou a unidade de pessoa em Cristo, declarando ainda que Maria é Mãe de Deus (teotokos). A segunda parte da Ave Maria é a afirmação desta verdade. Aquele que nasceu de Maria é Deus. Maria é, pois, mãe de Deus, que dela nasce como homem. Imagine, leitor amigo, o que seria da revelação contida nas Escrituras, se não tivéssemos na Igreja de Cristo uma instância que nos garantisse sua autêntica interpretação.(continua)
