MISSÃO DE NATAL: RECOLOCAR JESUS NA MANJEDOURA
Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo ode Palmas – TO
O anjo do Senhor, encarregado de dar aos pastores a alegre notícia do nascimento de Jesus, em Belém, assim se expressou: “eu vos anuncio uma grande alegria: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor!” (Lc 2,10-11). Quando os pastores chegaram à Gruta de Belém, viram este sinal: um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura (Lc 2,7). Jesus veio ao mundo sem um lugar para nascer e viver. Nasceu numa gruta improvisada. Foi acolhido, de improviso, numa manjedoura. E de lá encantou, provocou, redimiu e salvou o mundo. Deus, em Belém, quebrou o silêncio do universo e preencheu o vazio da existência humana. Assim como a Estrela de Belém é maior do que todas as outras estrelas, a manjedoura de Belém é também maior do que todas as manjedouras do mundo. Ela é o hi fi das redes sociais de Deus. A manjedoura que acolheu Jesus, seu primeiro berço, hoje está vazia, como vazia está a vida humana. Há um esvaziamento muito grande na vida, na mente e no coração de muitas pessoas. Consequentemente, há um progressivo esvaziamento do espírito do Natal.
Em tempo passado, era politicamente correto cantar: “Tudo está no seu lugar, graças a Deus” (Benito de Paula). Hoje não é nem político e nem correto. Tudo ou quase tudo no Brasil está fora de lugar. A sociedade brasileira está doente, dando sinais inequívocos de morrte: a política e a economia não estão nos seus lugares. Os traficantes, de todas as matizes, estão fora de lugar. A violência e a corrupção estão fora de lugar. Os crimes organizados estão fora de lugar. A discriminação e o preconceito estão fora de lugar. Os revolucionários, os reacionários e os conservadores estão fora de lugar. A agende da ideologia de gênero está fora de lugar, ao desconstruir os conceitos de pessoa e de família. Papai Noel não está no seu lugar. O Natal não está no seu lugar. Jesus não está no seu lugar. Tudo, enfim, está fora de lugar.
Nossa missão, neste Natal, é recolocar Jesus no seu devido lugar, na manjedoura da vida. Para que, então? Primeiro, para sermos guiados por Ele e para sentirmos a força deste Menino, apesar da sua aparente fragilidade. No mundo dos contrastes, os animais, inimigos mortais e presas fáceis uns dos outros, estão unidos: o lobo mora com o cordeiro, o leopardo se deita com o cabrito, o bezerro pasta com o leãozinho, a ursa come com a vaca, o leão se alimenta com o boi (Is 11,6-7). Uma criança, no entanto, os toca, brinca com eles e enfia a mão no esconderijo da serpente (Is 11,6.8). Segundo, para sentir-nos ovelhas do seu rebanho e do seu pastoreio. Terceiro, para cuidarmos dele como se cuida de uma criança. Deus, de fato, se fez criança para cuidarmos dele. Quarto, para, enfim, sabermos que a encarnação de Jesus é a novidade do cristianismo. O cristianismo é a religião de um Deus que se humaniza para divinizar a humanidade. O Deus cristão não é um mito, não é um livro e também não é uma filosofia. O cristianismo é a religião não de um livro, mas da Palavra (papa Bento XVI, Verbum Domini 7), de uma Pessoa, Jesus Cristo, o Filho coeterno do Pai, feito Homem. E nós, ao invés de concebermos e criarmos filhos, reproduzimos clones de nós mesmos.
O Natal perdeu o seu espírito porque perdemos o espírito cristão. Como disse Santo Agostinho: “Belém é para nós uma lição eloquente. Com o seu nascimento na silente noite de Belém, mesmo sem dizer nada, deu-nos uma lição, como se irrompe num forte grito: que aprendamos a tornar-nos ricos nele que se fez pobre por nós; que busquemos nele a liberdade, tendo Ele mesmo assumido por nós a condição de servo; que entremos na posse do céu, tendo Ele por nós surgido da terra”. Se assim fizermos, estamos cumprindo nossa missão: colocando Jesus novamente na sua manjedoura. Portanto, meu desejo final é que todos afinal tenham um santo e abençoado Natal.