O Concílio Vaticano II, grande farol a orientar os nossos tempos, apresenta um ideal típico de cristão dentro do mundo de hoje. A sua proposta abrange o Leigo assumindo tarefas dentro da comunidade religiosa. Mas ser Leigo é ser ambivalente. Se ao clérigo cabe assumir a coordenação da vida comunitária, nada nela funciona sem a participação efetiva dos “cristãos do mundo”. Basta ver como ficaria a catequese, a liturgia, as finanças, as celebrações, sem a sua presença. Chega a ser determinante. Mas o grande sonho conciliar vai muito além disso: quer ver o Leigo envolvido com aquilo que ele realmente entende: as realidades do mundo. Segundo essa concepção, a glória do cristão não deve ser só tornar-se ministro da comunhão, ou ainda ler epístola na missa. Mas influenciar a vida de família, o ambiente difícil do comércio, o vasto mundão da saúde e da educação, e até afundar as mãos no emaranhado da vida política.
Pois bem. Agora vamos olhar o nosso país. Nele encontramos, porventura, tais exemplos? Garantidamente, não são muitos, mas eles existem em todos os ambientes. A Dra. Zilda Arns é uma dessas pessoas reais. É fruto de uma família profundamente católica, cuja motivação de vida é a comunidade cristã. Essa família, que forneceu ao mundo várias personalidades de proa, deve ser um encorajamento para todas as famílias. A fé, haurida na vida familiar, foi a força motriz da vida dessa grande médica. Isso se podia observar no seu jeito de participar da Eucaristia, no respeito que demonstrava pelo clero, e na ardente caridade pelas mulheres pobres que inundava seu coração. O que eu gostaria de realçar na sua personalidade, não é tanto o grande sucesso, até internacional, que teve na Pastoral da Criança. É o seu enorme distanciamento da tendência nacional de muitos homens públicos, da corrupção econômica. Enquanto tantos escorregam para o abismo do roubo de bens públicos, Dra. Zilda Arns, com pouquíssimos recursos, foi capaz de apresentar sucessos inigualáveis, quase insuperáveis. Fica aqui meu repúdio à Academia Sueca do prêmio Nobel, que negou várias vezes (e vai negar sempre), o Prêmio da Paz a essa Leiga, que se santificou na sua profissão.