Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
O grande poeta gaúcho Mário Quintana escreveu uma poesia denominada: Inscrição para um portão de cemitério.
Na mesma pedra se encontram, Conforme o povo traduz,
Quando se nasce – uma estrela, Quando se morre – uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam Hão de emendar-nos assim:
“Ponham-me a cruz no princípio… E a luz da estrela no fim!
De fato, o “Dia de Finados” nos recorda que é preciso considerar a morte no contexto da vida e uma realidade iluminar a outra. Afinal, morte reprimida pode ser traduzida como vida reduzida. Morrer faz parte da experiência humana. Negar essa realidade é fugir da condição humana e se anestesiar numa existência superficial e fraca de sentido. Perdas, lutos e mortes povoam nossa história. Refletir sobre isso e celebrar a memória dos que partiram significa entender quem, de fato, somos.
Afinal, perguntar sobre a morte implica investigar a questão da vida. Vale, aqui, recordar o que São Paulo Apóstolo pregava: Irmãos, não queremos que vocês ignorem coisa alguma a respeito dos mortos, para não ficarem tristes como os outros que não têm esperança. Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, acreditamos também que aqueles que morreram em Jesus serão levados por Deus em sua companhia. (1Ts 4,13-14).
Preparar-se para o entardecer da vida não é olhar para a noite da morte, mas perceber que o sol se põe desse lado da existência, mas continua a iluminar a outra, onde é sempre dia. Podemos até usar a comparação com o dia: quando é noite aqui, é dia no outro lado do Planeta. De certa forma, isso nos ajuda a compreender a vida: quando morremos, “apagamos” para este mundo, mas vivemos e somos iluminados na vida eterna que Deus nos preparou. Para quem crê, a vida não é tirada, mas transformada. Desfeito nosso corpo mortal, Deus nos garante uma vida nova e plena, imperecível. Alguém pode se perguntar como é possível saber sobre essa realidade. Ora, Jesus nos garantiu com palavras seguras:
São João Paulo II, em 1999, escreveu:
Sinto uma grande paz quando penso no momento em que o Senhor me chamar: de vida em vida! Por isso, tenho frequentemente, nos lábios, sem qualquer sentimento de tristeza, uma oração que o sacerdote recita após a celebração eucarística: na hora da minha morte, chamai-me. E mandai-me ir para Vós. É a oração da esperança cristã, que não priva, em nada, de alegria a hora presente, enquanto confia o futuro à divina bondade.
No “Dia de Finados”, entretanto, a saudade e a dor da perda dos entes queridos pode se intensificar. Nesse momento, vale a pena meditar palavras de um santo bispo de Saragoça, São Bráulio, que no escrito “Diante da morte, nos perguntamos sobre o sentido da vida” nos ajuda a refletir: Que a esperança da ressurreição nos anime, pois os que perdemos neste mundo tornaremos a vê-los no outro; basta para isso crermos no Senhor com verdadeira fé, obedecendo aos seus mandamentos. Para Ele, Todo-Poderoso, é mais fácil despertar os mortos que acordarmos nós os que dormem. Dizemos essas coisas e, no entanto, levados não sei por que sentimento desfazemo-nos em lágrimas, e a saudade nos perturba a fé. Como é miserável a condição humana, e nossa vida sem Cristo torna-se sem sentido! Ó morte, que separas os casados e, tão dura e cruelmente, separas também os amigos! Mas teu poder já está esmagado! Basta-nos, porém, a esperança da ressurreição e termos os olhos fixos na glória de nosso Redentor. Pela fé já nos consideramos ressuscitados com Ele, conforme diz o Apóstolo: Se morremos com Cristo, cremos que também viveremos com Ele. (Rm 6,8).