“Muticom de Porto Alegre reflete a comunicação que aproxima homens”, diz dom Dadeus Grings

 

Na tarde deste terceiro dia de atividades do Mutirão de Comunicação América Latina e Caribe (Muticom), que acontece na PURS, em Porto Alegre, o arcebispo da capital gaúcha, dom Dadeus Grings concedeu entrevista à assessoria de imprensa da CNBB. O prelado destacou a importância do evento no cenário nacional e latino americano, de modo especial, a importância em discutir o tema “Processos de Comunicação e Cultura Solidária”, como forma de unir a América Latina e os países caribenhos. Confira abaixo, a íntegra da entrevista.

Dom Dadeus, como o senhor vê o desenvolvimento das atividades do Muticom, em Porto Alegre?

Os trabalhos estão dentro da nossa perspectiva. A grande alegria se faz presente porque, além de recebermos comunicadores de todo o Brasil, também estamos acolhendo aqueles vindos da América Latina e Caribe, que vieram e trazem consigo a riqueza, a informação e, a partir disso, a gente sente a união dos países, a “Pátria Grande”, como os povos indígenas falavam ao se referir ao continente. Estamos felizes também porque muitas formas de unir a América Latina não deram certo. Com a política não deu certo, pela economia [Alca] também fracassou, mas tem algo em comum em todos nós: a fé. Esta nos une profundamente. Um exemplo é Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina. Essa força veio para esse Mutirão. Mas, o que mais me chama a atenção no Muticom é sua temática da solidariedade. Aqui não estamos refletindo sobre a comunicação para ganhar dinheiro e sim a comunicação que aproxima mais os homens.

Qual mensagem o senhor tem a deixar aos jovens comunicadores que participam do Muticom? De modo especial os estudantes?
Digo aos jovens que sigam. Que trabalhem com sua própria maneira de ser, pensando sempre em atingir as pessoas através da solidariedade. Espero que durante o evento os jovens estejam abertos para essa grande mensagem da fraternidade, da solidariedade que o mundo tanto precisa hoje.

A Igreja está preparada para desenvolver seu papel nesse cenário da cultura solidária através dos meios de comunicação?

A Igreja está aprendendo aos poucos. A Igreja somos todos nós. Estamos aqui para isso, para debater esses novos meios que nós temos à nossa disposição. Hoje um palestrante dizia: “se eu faço a mesma coisa sempre eu estou superado”. Eu acredito então que isso aqui [o Mutirão] é um modo de inovarmos. Uma pesquisa diz que a Europa inova em torno de 50% e o Brasil não consegue chegar a 20%. Isso já diz que inovamos muito pouco. É interessante porque esses dados nos revelam que caminhamos pouco. E que é preciso pensarmos à frente daquilo que dispomos hoje. Nesse sentido os meios de comunicação nos fazem avançar mais rapidamente.

E as diferenças sociais existentes em nosso país, hoje? Não é errado pensar que somos um país homogêneo no que diz respeito ao acesso à informação?

Sim. Nós sentimos que nosso país precisa de mais educação, mais investimentos. Isso não acontece de um dia para o outro. Mas eu também sinto que o país dá passos gigantescos. Temos que lembrar que a Europa se fez uma potência em 2 mil anos, e nós temos apenas 500 para construirmos toda uma infraestrutura. Acredito que nós temos muitas dificuldades ao nos apegarmos com o passado, mas também temos, ao mesmo tempo, muita perspectiva de futuro.

A Igreja particular de Porto Alegre cria essa estrutura mental e material para se modernizar e se inserir no campo comunicacional por meio das novas tecnologias?

Nós fazemos o esforço de convencer os padres de que precisamos informatizar as paróquias. É importante porque isso nos poupa muito esforço e nos agiliza nas tarefas diárias. Mas isso não basta. Não podemos apenas criar uma amizade virtual. Temos que incentivar o encontro pessoal, a acolhida e o carinho pela pessoa e cultivar a cultura de dar-se a mão. Não apenas apertar a tecla, que permanece atual sempre. Devemos mostrar os dois aspectos: um, o meio moderno, mas sem perder os valores humanos.

Dom Dadeus, e o senhor, já está inserido nas novas tecnologias? O senhor tem Twitter, Orkut, blog?

Nossa Cúria está informatizada. Como pessoa física eu não tenho bastante tempo para me atualizar em todas as mídias sociais, mas falando em termos jurídicos, nós estamos nos inserindo nesse espaço oferecido pelas novas tecnologias da informação. Da mesma forma é o Vaticano. As pessoas me perguntam se o papa lê tudo que chega à Santa Sé. Eu sempre respondo que, como pessoa física, ele não consegue ler tudo, mas juridicamente falando, ele tem toda uma assessoria que é incumbida disso. A Cúria Romana está aparelhada para dar conta de tudo aquilo que lhe chega. Me disse hoje o cardeal dom Cláudio Maria Celli, que o site da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) recebe diariamente 5 milhões de acessos diários. É um fenômeno que a Igreja está adentrando e nós também precisamos acompanhar isso enquanto parte desse corpo.


Qual mensagem o senhor deixa aos participantes do Mutirão de Comunicação?

Temos que caminhar com os tempos. Temos que nos inserir nos novos métodos para, através deles, trazermos a mensagem de salvação de Jesus Cristo, hoje e sempre.

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