João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Montes Claros
Esperar é uma das experiências humanas mais comuns. Entre o desejo, a vontade, o plano e a realização existe um intervalo de tempo, uma espera. Muito do que as pessoas querem não pode ser alcançado imediatamente e requer tempo. Nada mais emblemático do que as filas. Todas elas são sempre “filas de espera”. Sim, o tempo emerge como condicionamento que parece lutar contra as respostas imediatas. Isso ocorre em inúmeras situações da vida. E a natureza é assim. Onde há vida, há esperas.
A tecnologia avança para diminuir os intervalos de tempo e, portanto, diminuir as esperas. Os aviões, cada vez mais modernos, rapidamente rompem grandes distâncias. Na venda de automóveis a velocidade é um quesito fundamental, mesmo quando existem limites e radares pelas ruas e estradas. Os meios de comunicação social conseguiram romper as barreiras e permitem transmissão simultânea de acontecimentos e diálogos por vídeo com interlocutores localizados noutro hemisfério. Até mesmo o tempo para cozinhar alimentos foi diminuído pelo uso de fornos micro-ondas. Vendem-se alimentos pré-cozidos. Paga-se para que correspondências e encomendas cheguem mais rápido. As mães de hoje, possivelmente, não saberiam dizer o que viria ser o “tempo de resguardo”. E comumente considera-se que os tempos hodiernos passam mais rapidamente.
No entanto, as esperas persistem. A espera pelo telefonema, pela chegada de um hóspede, pelo retorno de uma pessoa amada, pelo resultado de um concurso, pelo diagnóstico de uma enfermidade, pela conclusão de um curso, pela entrega de um produto, pelas chuvas para iniciar a semeadura, por uma promoção no trabalho, pela vitória de seu time que disputa um campeonato, pelo início das férias, pelo dia do aniversário, pela lua cheia, pelo inverno, pela resposta de uma mensagem por e-mail ou por WhatsApp…
Do ponto de vista da biologia humana, há prazos que ainda permanecem pouco flexíveis. Há processos vitais que não podem ser encurtados. Vários tratamentos de saúde exigem tempo mais longo para a recuperação de um enfermo. Há exames que demoram dias para serem analisados e, por fim, diagnosticada a enfermidade. E o tempo de gestação humana exige uma espera de nove meses.
A liturgia cristã apresenta um tempo muito propício para a espiritualidade da espera. Trata-se do “advento” ou tempo de preparação para celebrar as festas natalinas. Muitos elementos dos quatro domingos que antecedem a celebração do Natal de Jesus Cristo nos ensinam a esperar e a lidar com a expectativa do dom que está para chegar. A espera nos presenteia com o esperado. Para nós cristãos, o esperado é Jesus, filho de Maria e de José, o Verbo que se fez carne, o Salvador visitado pelos pastores na gruta de Belém. Enquanto se espera tem-se a chance de melhor se preparar para acolher o esperado. Então, aproveite esse intervalo que nos separa do Natal para renovar o desejo de acolher em seu coração a luz do menino que repousou na manjedoura e que mudou os rumos da história. Utilize esse tempo para viver como Ele ensinou, isto é, seja fraterno, busque em primeiro lugar o Reino de Deus, seja um construtor da paz, estabeleça pontes, estenda a mão… E sua espera será uma escola de humanidade renovada.