Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros (MG)
É grande a expectativa para as festas de fim de ano. No entanto, muitos desconhecem a origem da data do Natal assinalada no calendário cristão no dia 25 de dezembro. É sabido que nesse dia nós cristãos celebramos o nascimento de Jesus Cristo. Porém, os evangelhos e outras fontes históricas não fornecem dados para precisar a data que, em Belém, nasceu Jesus, filho de Maria e de José. Foi o imperador Constantino, no século IV, quem fixou a data de 25 de dezembro como o dia para celebrar o Natal do Senhor.
E por que esta data? Nesse dia celebrava-se no império, especialmente em Roma, a festa do “sol invicto”. A noite de 21 para 22 de dezembro corresponde ao solstício de inverno do hemisfério norte. É a noite mais longa do ano. Na sequência, os dias começam a se prolongar novamente. O outono parecia ceder à escuridão, com dias cada vez mais curtos. Mas o sol vence a noite e os dias vão se tornando de novo mais longos. A luz do sol, tão necessária à vida, torna a iluminar e aquecer.
Esse belo fenômeno da natureza está na origem de diversos cultos religiosos. Não foi difícil adotar a festa do “sol invicto” e torná-la cristã. Alguns textos corroboram para isso, como o cântico de Zacarias segundo o evangelista Lucas: “Graças às entranhas de misericórdia de nosso Deus, pelas quais, do alto, nos visitará o sol nascente, para iluminar os que estão nas trevas e na sombra da morte, e dirigir nossos pés no caminho da paz” (1,78-79). Para os cristãos, o verdadeiro sol é Jesus Cristo, luz que ilumina todo ser humano. Somente Ele pode dizer de si mesmo: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminha na escuridão, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
Para os cristãos do hemisfério norte, sobretudo europeus, é quase incompreensível celebrar o Natal sem o frio, sem a neve, sem o aconchego das casas fechadas, das pessoas ao redor da mesa e aquecidas pela lareira. Pode-se dizer que o Natal para nós brasileiros é celebrado também sob o signo do sol, propriamente, do sol de verão. Muitos associam as festas natalinas com as férias e viajam para o litoral. Outros se arranjam em famílias e grupos para comemorar, com trocas de presentes e ceias compartilhadas.
E quantos cristãos celebram essa noite sem ater-se ao principal? O mercado desviou o foco d’Aquele que é o Filho de Deus para as mercadorias transformadas em sonho de consumo das pessoas. Mesmo para nós cristãos, o Natal pode se tornar uma festa pagã, se dele retiramos o sentido, não dando sequer espaço para a luz do Menino Deus brilhar na escuridão de uma sociedade desigual, violenta, preconceituosa, superficial.
Não deixemos que nos roubem o sentido do Natal. A data de 25 de dezembro é para ser a memória do mistério amoroso de Deus, que abraça toda a humanidade enquanto renasce na coragem dos que abrem seus braços para acolher os pobres, os moradores de rua, os sem-teto, os que se prostituem, os encarcerados, os portadores do vírus HIV, os idosos, os migrantes… Como o sol não brilha dentro de uma casa com portas e janelas fechadas, a luz de Jesus Cristo não penetra em corações obcecados pelas compras, pelas festas, pelos presentes, pelas viagens. Ele, Jesus, prefere manjedouras.
