Não permitamos que nos roubem a esperança!

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre

Na última semana, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou uma nota na qual manifestou a sua posição diante dos graves acontecimentos nacionais das últimas duas semanas.

O descaso presente em setores da sociedade pela coisa pública, as manifestações do corporativismo de setores da sociedade mais interessados no particular que no coletivo, os contundentes sinais de corrupção e manipulação interesseira do bem comum, as manifestações de expressões do judiciário que não responde à altura dos desafios da nação e o populismo oportunista oferecem sinais preocupantes.

As pessoas que desejam dias melhores para as futuras gerações não podem permanecer indiferentes diante dos enormes desafios que atingem a todos os cidadãos.

A situação que o nosso povo está vivendo, exige responsabilidade de todas as forças da sociedade, de modo especial os poderes públicos constituídos.

A nota lançada pela CNBB tem como base uma citação bíblica: “Jesus entrou e pôs-se no meio deles e disse: A paz esteja convosco” (Jo 20,19). Em seguida a Conferência, por meio de sua presidência, expressa solidariedade para “com os caminhoneiros, trabalhadores e trabalhadoras, em manifestações em todo território nacional, e preocupada com as duras consequências que sempre recaem sobre os mais pobres, conclama toda a sociedade para o diálogo e para a não violência. Reconhecemos a importância da profissão e da atividade dos caminhoneiros.

A crise é grave e pede soluções justas. Contudo, “qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça” (CNBB, 10/03/2016). Nenhuma solução que se utilize da violência ou prejudique a democracia pode ser admitida como saída para a crise.

Não é justo submeter o Estado ao mercado. Quando é o mercado que governa, o Estado torna-se fraco e acaba submetido a uma perversa lógica financista. “O dinheiro é para servir e não para governar” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 58).

É necessário cultivar o diálogo que exige humilde escuta recíproca e decidido respeito ao Estado democrático de direito, para o atendimento, na justa medida, das reivindicações.

As eleições se aproximam. É preciso assegurar que sejam realizadas de acordo com os princípios democráticos e éticos, para restabelecer nossa confiança e nossa esperança. Propostas que desrespeitam a liberdade e o estado de direito não conduzem ao bem comum, mas à violência.

Celebramos, recentemente, a Solenidade do Corpus Christi, fonte de unidade e de paz. Quem participa da Eucaristia não pode deixar de ser artífice da unidade e da paz. O Pão da unidade nos cure da ambição de prevalecer sobre os outros, da ganância de entesourar para nós mesmos, de fomentar discórdias e disseminar críticas; que desperte a alegria de nos amarmos sem rivalidades, nem invejas, nem murmurações maldizentes (cf. Papa Francisco, Festa do Corpus Christi, 2017). O Pão da Vida nos motive a cultivar o perdão, a desenvolver a capacidade de diálogo e nos anime a imitar Jesus Cristo, que veio para servir, não para ser servido.

Conclamamos, por fim, todos à oração e ao compromisso na busca de um Brasil solidário, pacífico, justo e fraterno. A paz é um dom de Deus, mas é também fruto de nosso trabalho.

Nossa Senhora Aparecida interceda por todos!

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