Não sejas incrédulo, mas fiel

Dom Paulo Antônio De Conto,
Administrador Apostólico da Diocese de Nova Friburgo

Queridos irmãos e irmãs, ainda no contexto pascal celebramos no último domingo a grande Festa da Misericórdia, instituída como uma festa universal por São João Paulo II no ano 2000, decretando que a partir de então o Segundo Domingo da Páscoa se passasse a chamar Domingo da Divina Misericórdia.

O decreto faz ecoar as palavras de Jesus ditas à Santa Faustina Kowalska, nas quais prometia que a celebração deste dia seria “refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pecadores”, concluindo com a seguinte afirmação: “a humanidade não terá paz enquanto não se voltar à fonte da Minha Misericórdia” (Diário 699[3][4]).

Vale lembrar que esta festa está intimamente ligada ao Mistério Pascal de Nosso Senhor, que por sua morte e ressurreição manifestou a misericórdia do Pai abrindo as portas do céu ao reconciliar toda a humanidade.

Quando falamos de misericórdia, logo nos vem à mente a iconografia de Jesus Misericordioso cunhada por Santa Faustina, inspirada pelas ordens do próprio Cristo: a imagem do Ressuscitado que verte do seu coração raios pálidos e rubros, significando a Água que justifica e o Sangue que dá vida às almas, ambos jorrados do lado abeto na cruz (cf. Diário, 299). Do Seu coração saem raios, luz, paz e amor. Dele brota vida para todos.

Neste tempo difícil em que uma pandemia nos aprisiona em nossos lares, privando-nos do convívio fraterno e angustiando nossos corações pelo medo, nos sentimos como os Apóstolos. Por isso, busquemos nos deixar invadir pela presença do Ressuscitado e ser tocados por sua misericórdia. E assim nos tornarmos Apóstolos destemidos que anunciam a vida nova em Cristo.

Lembro com carinho e entusiasmo um testemunho que tive a oportunidade de ouvir no Santuário da Divina Misericórdia, em Cracóvia – Polônia. Contava um senhor muçulmano que tendo sofrido um grave acidente ficou em coma por muito tempo. Ao se recuperar, passando por uma rodovia viu uma placa na qual estava estampada a imagem de Jesus Misericordioso, no mesmo instante ele se lembrou do acidente e reconheceu que fora aquele homem retratado nessa placa que o salvara. Daquele dia em diante converteu-se ao catolicismo e dedica sua vida a anunciar que Jesus não só o salvou de um acidente, mas livrou sua alma da perdição eterna.

Este testemunho nos faz perceber que Jesus nunca nos abandona, Ele está sempre conosco, ao lado. Apesar de nossas infidelidades e fraquezas ele permanece sempre fiel, se compadecendo, chorando e suplicando ao Pai do céu que nos envie o Espírito Santo para nos dar foças.

O Papa Francisco lembra-nos que Jesus perante a incredulidade medrosa de Tomé, que não acreditou no testemunho dos irmãos, “regressa, coloca-Se na mesma posição, ‘no meio’ dos discípulos, e repete a mesma saudação: ‘A paz esteja convosco!’ (Jo 20, 19.26). Começa de novo. A ressurreição do discípulo começa daqui, desta misericórdia fiel e paciente, da descoberta que Deus não Se cansa de estender-nos a mão para nos levantar das nossas quedas” (Homilia, 19 abr. 2020).

É assim que deve ser vivida nossa devoção a Jesus Misericordioso, imitando em nossas vidas o seu modo de ser e de agir. A Seu exemplo devemos todos ser misericordiosos. Não ter medo de ir ao encontro das pessoas que precisam. Regressar, caminhar mais devagar, mas não deixar ninguém para trás.

Somos chamados como Tomé a colocar a mão nas feridas de Jesus, por meio da dor dos nossos irmãos. Não podemos deixar que este tempo de crise nos afaste do padecimento dos que sofrem. É possível fazer muito! É possível amar, cuidar, proteger! “Queira Deus que tudo o que está acontecendo mexa conosco: é tempo de remover as desigualdades, sanar a injustiça que mina pela raiz a saúde da humanidade inteira!” (Papa Francisco, 19 abr. 2020). Tenhamos cuidado por não nos deixar contagiar pelo vírus da indiferença egoísta.

 

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