Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Todos nós construímos, em nosso sentimento e pensamento, uma imagem ideal de Jesus Cristo. Quando a partilhamos com outras pessoas percebemos que há semelhanças e diferenças. O mais importante é confrontar a imagem pessoal com a fisionomia que a Palavra de Deus revela de Jesus Cristo. Isto evita distorções. A liturgia da Palavra do segundo domingo do Advento oferece alguns dados para reconstruir a autêntica imagem do Messias (Isaías 11,1-10; Salmo 71, Romanos 15,4-9 e Mateus 3,1-12).
O profeta Isaías parte da metáfora de um tronco seco que é sinal de queda, morte e de esterilidade. Outrora foi uma árvore frondosa, abençoada e com a missão de fazer o bem e produzir frutos de justiça. Mas com o tempo as infidelidades foram matando a árvore. Agora, existe somente um tronco seco do qual não se pode se esperar mais nada. O profeta está se referindo a casa de Davi e seus sucessores. Humanamente não tem mais nada a fazer. Mais, eis o milagre: “nascerá uma haste do tronco de Jessé (pai de Davi) e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor”. Algo tão prodigioso somente pode vir de Deus.
Sobre esta “haste” e o “rebento de uma flor” “repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de ciência e temor de Deus; no temor do Senhor encontrará ele seu prazer”. Deus cria uma nova espera e tudo inicia de novo. As esperanças humanas faliram, mas as promessas de Deus criam uma nova situação fundada no Espírito do Senhor. Este personagem terá seis atributos (que depois serão identificados com os sete dons do Espírito Santo na tradução grega da Bíblia, na Vulgata e na tradição da Igreja) que iniciará a concretização de um novo tempo.
Quando Jesus inicia sua missão em Nazaré, se apresenta como a concretização desta promessa. Lê a profecia de Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim…”. Depois afirma: “Hoje se cumpriu esta palavra da Escritura que acabais de ouvir”. O Messias tem grande efusão do Espírito, princípio divino transformador da realidade humana. Em toda a vida de Jesus os atributos anunciados se concretizaram. Ensinava com sabedoria e autoridade; não julgava pelas aparências ou por ouvir dizer; tinha profunda intimidade com o Pai e revelou o que se passa na profundeza da alma.
A ação do Messias “trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos”. Jesus constantemente esteve presente junto aos humildes e todos os rejeitados manifestando misericórdia. Reacendeu na vida deles a esperança. Se foram abandonados pelos homens, não foram rejeitados por Deus.
O ensinamento do Evangelho aparentemente contradiz a imagem de Messias apresentada na profecia de Isaías. Na verdade, esclarece como o Messias realiza a esperança. A presença dele não cria uma situação fantasiosa, irreal. A esperança se concretiza em ações exigindo empenho e responsabilidade. Arrepender-se, confessar os pecados e mudar de vida é o único caminho para produzir uma nova realidade. João Batista afirma que o Messias batizará com o “Espírito Santo e com fogo” purificando as consciências e queimando o que é sem valor, os males e os pecados.
Na carta aos Romanos São Paulo revela outra face do Messias. Ele é servidor que acolhe a todos e cria fraternidade entre eles. Por isso, convida a ficar “firme na esperança. O Deus que dá constância e conforto vos dê a graça da harmonia e concórdia, uns com os outros, como ensina Cristo Jesus”.
Para nós, tudo isto parece um ideal utópico e difícil de ser traduzido em fatos. A realidade dos fatos parece desmentir diariamente este ideal. Sem dúvida isto se constitui um desafio. Porém, somente quem tem a Grande Esperança – que é Deus – é mais forte que os fatos. Quem crê é chamado a propagar e realizar diariamente o que o Messias fez e deseja continuar fazendo através de nós.
