Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
Nos anos da guerra do Vietnã foi exibido um filme que retratava o drama dos soldados, intitulado “Born to kill”: nascido para matar. A visão cristã e das religiões que prezam a humanidade é outra, somos nascidos para a comunhão, isto é, para amar e servir, cuidando da própria vida e protegendo a vida de todas as pessoas e criaturas.
Um impactante “best seller” americano, que foi traduzido para dezessete idiomas, do Ph.D de pedagogia da University of Southern, Califórnia, professor Leo Buscaglia, confirma estas assertivas. Ministrou, durante anos, o curso chamado Amor, testemunhando, como já afirmara Benjamim Disraeli, que: “Todos nós nascemos para amar. Este é o princípio da existência e a sua única finalidade”. Por isso, descobrimos a vida como uma preciosa dádiva de Deus e, correspondendo a este presente inestimável, somos convidados a nos tornar um dom para os outros. Amar e cuidar da vida dos outros é o grandioso sentido da evolução da espécie humana.
A neurociência, em nossos dias, assinala que os bebês, já na maternidade, apresentam sinais de empatia e interesse pelos outros. É esta vivência que observamos nas primeiras famílias cristãs, acolhendo incondicionalmente a vida dos filhos e dos filhos abandonados por outros. Mais que uma doutrina fria e impessoal, como alguns quero pensar, bem intencionados, avaliam de forma geral o posicionamento dos cristãos a respeito ao aborto, trata-se de um amor generoso por acolher a vida dos pequeninos em qualquer circunstância.
Comportamento que não reage com julgamentos, mas que, na cordialidade não violenta, serve de amparo e socorro a todos/as os que sofrem ameaça de vida. Não é casual que o asilo político de proteção aos perseguidos nasceu nas Igrejas. A própria roda dos expósitos das Santas Casas era uma forma de salvar as crianças indesejadas, que seriam ou vendidas ou deixadas para morrer.
A origem da palavra cretino, que refere a existência na criança de uma diferença ou situação especial, hoje equiparada com o síndrome de Down, em língua provençal, na França, significava “crettienne”, ou seja, pequeno Cristo, e, como tal, não só era acolhido com alegria e amor, mas considerado a presença do Deus amor na família. Arturo Paoli, um famoso autor de espiritualidade cristã, sempre dizia que os direitos humanos são cristalizações ou registros da memória que a caridade humana e cristã deixou na defesa da vida e dignidade da pessoa humana ao longo da história.
Oferecer à menina capixaba, que sofreu estupro e foi levada ao aborto, um cuidado integral, que possa curá-la e promovê-la por inteiro, pela parte da CNBB, está inserido nesta tradição de defesa, cuidado, amor e reverência pela vida, em todas as idades, situações e circunstâncias. A vida é o primeiro direito do cidadão, um direito inviolável, imprescritível e inalienável. Deus seja louvado!