Natal: a Manifestação de Deus na Humildade da Manjedoura 

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

 

 

O Natal de Jesus nos convida a contemplar o mistério da manifestação de Deus na fragilidade de um recém-nascido deitado numa humilde manjedoura. A liturgia da vigília do Natal nos prepara para viver intensamente esse mistério, convidando-nos a contemplar com os olhos da fé a manifestação de Deus. Escrevendo a Tito, São Paulo diz: “A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todos os homens” (Tt 2,11). No recém-nascido de Belém, essa manifestação atinge seu ápice. 

A expressão “manifestou-se” traduz a verdadeira essência do Natal. Deus revelou-se, saindo de sua luz inacessível e veio habitar entre nós. Ele assumiu a nossa condição humana, manifestando-se como uma frágil criança. Antes da encarnação do Filho de Deus, o nosso conhecimento de Deus era opaco e imperfeito. Apesar de Deus tentar se comunicar conosco de várias maneiras, conforme lemos em Hebreus (1,1), o nosso entendimento de seu mistério era limitado. O próprio homem sentia receio diante da manifestação de Deus. No relato do Deuteronômio (5, 23-27), os israelitas solicitaram a Moisés que Deus se comunicasse por meio dele, temendo as consequências que poderiam advir da manifestação direta de Deus. 

No Natal, a manifestação de Deus difere significativamente do evento no Sinai. Não há razão para temer! A luz que se manifesta revela que Deus é pura bondade. Mesmo quando os pastores, inicialmente, sentiram medo diante do Anjo do Senhor, imediatamente, este procurou tranquilizá-los: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 10-12). 

Deus não vem de modo ameaçador. Ele escolhe a humildade do presépio e a fragilidade de uma criança, arriscando-se a não ser reconhecido e aceito por nós. Assim também o Profeta Isaías anuncia a epifania de Deus: “Nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz nos ombros a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz. Grande será o seu reino e a paz não hão de ter fim” (Is 9, 5-6). 

O Deus forte revela-se como um menino, frágil, transmitindo amor e paz. Sua manifestação como uma criança indefesa contrapõe-se à violência. Assim, o Natal se apresenta como um tempo de trégua, reconciliação e paz, estimulando-nos a desarmar-nos da arrogância e prepotência. Que o Príncipe da Paz nos inspire a transformar as armas de guerra em instrumentos de trabalho, de construção, criatividade e paz, banindo ódio, rancor e violência de nossas vidas! 

Num mundo onde o Natal muitas vezes se reduz a uma festa comercial, é crucial pedir ao Senhor que nos ajude a enxergar além das fachadas reluzentes para encontrar o verdadeiro significado do Natal: o menino de Belém. Não se trata de sentimentalismo! É na experiência da humanidade de Deus que o grande mistério da fé se revela. Deus torna-Se pobre, nascendo na simplicidade do estábulo, dependendo do amor humano, para que possamos nos abrir com total liberdade a ele. No menino do estábulo de Belém, podemos tocar e acariciar Deus! Nas pequeninas coisas da vida, podemos apreciar Deus! Em Sua humildade, Deus se rebaixa à nossa estatura para elevar-nos até Ele. 

Em sua homilia da noite de Natal de 2020, o Papa Francisco nos dirige uma mensagem animadora: “O Filho de Deus […] Veio ao mundo como vem ao mundo uma criança débil e frágil, para podermos acolher com ternura as nossas fraquezas. E para nos fazer descobrir uma coisa importante: como em Belém, também conosco Deus gosta de fazer grandes coisas através das nossas pobrezas. Colocou toda a nossa salvação na manjedoura de um estábulo, sem temer as nossas pobrezas. Deixemos que a sua misericórdia transforme as nossas misérias!”   

Eis o sentido do Natal! Deus escolhe nascer numa humilde manjedoura para tocar a nossa miséria! Seguindo a sabedoria de São Francisco, busquemos o verdadeiro significado do Natal na simplicidade e na humildade do presépio. 

Tags:

leia também