Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados – MS

De acordo com o balanço divulgado pela Secretaria Estadual dos Transportes de São Paulo no dia 28 de dezembro de 2009, ocorreram 924 acidentes durante o feriado de Natal daquele ano, causando a morte de 38 pessoas e ferimentos em outras 594, nas rodovias do Estado. Por sua vez, o Mato Grosso do Sul registrou a morte de 18 pessoas a partir do dia 20 de dezembro, 10 delas durante o feriadão. O total de acidentes foi 53% maior do que os ocorridos durante o mesmo período, em 2008.

Contudo, as mortes em acidentes de trânsito não são tão trágicas como as que nascem do desrespeito pelos valores mais importantes trazidos pelo Natal: o amor e a paz. No Rio Grande do Sul, 34 pessoas foram assassinadas no feriado de Natal, 12 delas em Porto Alegre. Em Vitória, no Espírito Santo, na noite de Natal, a polícia registrou três assassinatos e outras quatro tentativas de homicídio. Um rapaz de 18 anos esfaqueou a própria mãe, que não concordava com seu namoro. Em Pernambuco, o Natal de Jesus foi comemorado com 39 assassinatos.

No final do ano, um jornal de Campo Grande, sob o título “O Espírito de Natal em xeque”, ao comentar as mortes ocorridas no Natal, escrevia: «Em uma dessas ocorrências, um jovem de 29 anos foi morto pelo padrasto presidiário, que havia recebido o indulto e estava passando o Natal com a família. Outro rapaz, de 22 anos, foi assassinado a tiros pelo ex-marido de sua namorada, quando estava em uma festa natalina. A terceira morte na noite de Natal foi de um homem de 41 anos, que foi espancado até a morte por três jovens após um assalto.

Mas a selvageria não parou por aí. No sábado, dia 26, por volta das 22 horas, João Marcelo Cardoso Dias, de 27 anos, foi executado em frente a uma igreja evangélica, onde assistia ao culto. Ele levou três tiros, dois no rosto e um no peito, desferidos por um homem em uma moto, que fugiu sem ser reconhecido. Além da violência, esse assassinato teve o ingrediente da frieza. O assassino pediu a uma criança que chamasse a vítima, que assistia ao culto. Quando João Marcelo chegou, o motociclista perguntou à vítima: “Quais são suas últimas palavras?” “Jesus te ama, meu irmão!” foi a resposta de João Marcelo».

Neste embate entre o amor e o ódio, a vitória foi de João Marcelo, apesar das aparências contrárias. Suas últimas palavras resumem o sentido do Natal, anunciado pelos Anjos de Belém: «Paz na terra aos homens amados por Deus!» A antiga tradução latina era um pouco diferente: «Aos homens de boa vontade». Os sentidos se completam entre si: por não sentirem falta do amor de Deus, falta aos homens a boa vontade necessária para construir um projeto de vida alternativo.

Sobre o mesmo assunto – e nos mesmos dias – um jornal de Dourados fazia eco ao de Campo Grande: «O Natal é uma oportunidade para a reunião em família, para a reflexão, para praticar mais o amor e atuar em favor da paz nos lares. No entanto, infelizmente, muitos preferem o caminho inverso. Exageram no consumo de álcool e outras drogas, protagonizam brigas, agressões gratuitas e até mortes. Em vez de ficarem de bem consigo mesmos, tranqüilos com suas consciências, praticar o bem, visitar alguma entidade de caridade, buscar o aconchego familiar ou ir a uma igreja, alguns preferem a bebedeira nas ruas e se aproveitam da condição de embriaguez para mostrar valentia! Quanta ignorância! Talvez não houvesse tanta tragédia se todos aproveitassem mais o Natal para celebrar o nascimento de Cristo, falar do seu amor, da sua vida, em vez de dar mais valor ao consumismo sem limites».

Quem exultou com o Natal de 2009, foi o comercio, que viu crescer suas vendas em 15%. Para o Natal de 2010, prevê-se que, no Mato Grosso do Sul, serão gastos em torno de 80 milhões de reais. Nesse tipo de Natal, porém, não há lugar para Jesus. Se a festa se resume a compras e vendas, comidas e bebidas, viagens e passeios, é hipocrisia admirar-se dos frutos que despontam: «O que o homem semeia, isso também colherá!» (Gl 6,7).

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