Dom Pedro Brito Guimarães  
Arcebispo de Palmas (TO)  

 

          Em contagem regressiva para o Natal, eu me pego a pensar como fui concebido, nasci, cresci e cheguei à idade, que tenho hoje. Passa por minha cabeça e por meu coração que aconteceu, pelo menos, uma série de cuidados para que, hoje, eu estivesse aqui. Senão não estaria aqui para contar esta história.  

         Deus é cuidadoso. Tudo o que Deus faz, faz com cuidado. E tudo o que ele cuida merece crédito. O Senhor Deus foi cuidadoso quando criou, em cinco dias, todas as condições favoráveis à vida (Gn 1,1ss). Ele também foi cuidadoso quando, no sexto dia, criou os seres humanos: homem e mulher os criou (Gn 1,27). E viu que tudo era muito bom (Gn 1,25).  

        Ele, enfim, foi cuidadoso quando criou as condições objetivas para o nascimento de Jesus, nascido da Virgem Maria: “gerado, não criado, consubstancial” a Ele próprio, como reza o Credo Niceno-Constantinopolitano. Tudo feito com muito amor e cuidado. Quando a gente ama, a gente cuida. A escolha do anjo, o tempo, o espaço, o modo, o anúncio a Maria, as palavras empregadas, as explicações dadas, tudo com muito amor, sensibilidade e cuidado. E ainda mais, fez José sonhar com o mesmo anúncio. Mesmo assim, deixou Maria assombrada (Lc 1,29). 

         O cuidado está na base do amor de Deus e também da nossa existência. A criança é o símbolo humano do cuidado. No reino animal somente nós, humanos, precisamos, para viver, de tantos cuidados. Os outros seres não precisam de tantos cuidados assim como o ser humano. E é exatamente por falta de cuidado que muitos morrem antes de nascer; ou se nascem, não sobrevivem por muito tempo. 

         O Natal é cuidado de Deus por nós e também o nosso cuidado de Deus. Jesus é o cuidado de Deus. Ele cuida do nascimento de Jesus para cuidar de nós. Por que será que Jesus nasceu em condições ínfimas: fora de casa, em uma estribaria, guardado apenas por animais? Foi somente por causa do decreto do recenseamento, ordenado pelo Imperador Augusto (Lc 2,1ss)? Deus não se deixa manipular por decisões políticas. Foi apenas por que não havia hospedagem em Belém? Onde estavam os descendentes de Davi, parentes de José, que não os acolheram em suas casas? Deus não se deixar condicionar pelas insensibilidades humanas. 

         Certamente não foram somente por estes motivos. Por que será então? Sabe por quê? O motivo maior é que Jesus nasceu assim para ser cuidado pelo Pai e por nós, como nossos pais e nossas mães cuidam de nós. Ele veio exatamente ao mundo para cuidar da nossa salvação. Não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10,45). Sua vida é a vida de um verdadeiro cuidador: cuida dos pobres, dos doentes, dos endemoniados e dos pecadores e de todos aqueles e aquelas que não se bastam a si mesmos.  

O fato de Jesus ter nascido em uma gruta, deitado em uma manjedoura e envolvido em faixas não possui a sinalização de apelo ecológico? Existem cuidados melhores e maiores do que estes? Belém é o lugar do cuidado de Deus. Belém é o Hospital de Campanha de Deus Pai para Maria, José e Jesus, e para toda a humanidade. Belém é a casa do pão do cuidado e do cuidado do pão. Belém é a nossa casa, a nossa Igreja, a nossa missão. Belém somos todos nós. Belém é onde se cuida da vida. Belém é onde Jesus é cuidado e onde Deus cuida de nós. Belém hoje é aqui e agora. 

         Neste Natal precisamos adotar, como regra de vida, três tipos de cuidados: o cuidado uns dos outros, sobretudo dos que participam de uma forma ou de outra, das nossas estruturas eclesiais; o cuidado das pessoas que estão retornando, chegando ou se aproximando, mesmo que timidamente, das nossas realidades pastorais; e o cuidado com as pessoas que estão fora, distantes e divorciadas de nós.  

        Que ninguém deixe de cuidar de alguém e de ser cuidado, neste Natal, porque o Natal é realmente o tempo do cuidado de Deus. Que neste Natal, cuidemos uns dos outros, como Deus cuida de nós. 

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