Dom Francisco Carlos Bach
Bispo de Joinville (SC)
A festa natalina, amplamente aguardada pelos cristãos, nos leva ao presépio para contemplar o menino Jesus, Verbo encarnado, ao lado da Virgem e Mãe Maria e de São José, pai adotivo de Jesus. Ficamos extasiados diante de um fato perplexo: como é possível que Deus tenha tão grande amor por nós e nos mande seu próprio Filho para ser nosso Salvador? E diante deste mistério, adoramos o Senhor Jesus e glorificamos toda a Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
O Verbo encarnado, Jesus Cristo, em gesto extremo de humildade, diz sim à vontade do Pai, que, aliás, era seu alimento (Jo 4,34), torna-se um de nós, exceto no pecado. “Quem de vós pode acusar-me de pecado” (Jo 8,46). Era compassivo, paciente, amável, compreensivo e sensível com a dor de todos, cheio de tato para lidar com homens, mulheres e crianças de todas as faixas etárias. Desfrutava de boa saúde, sentia sede, fome e cansaço. Era manso e humilde, vigoroso e corajoso na defesa de suas ideias e convicções. Inteligente, percebia as ciladas e manobras de seus adversários e sabia dar a exata resposta em qualquer situação. Alegrava-se, ficava comovido e chorava. Como cada um de nós, com uma grande diferença: era e é o Filho de Deus. Anunciou a vontade do Pai, foi obediente até a morte, e morte de cruz (Fl 2,8), e ressuscitou, comprovando suas palavras. É o nosso Senhor e Salvador.
Viver o Natal exige do cristão duas atitudes: adorar o Verbo encarnado, mas igualmente olhar por aqueles pelos quais Jesus nasceu e morreu na cruz e hoje vivem em situação indigna para um ser humano. A pandemia tem nos mostrado o rosto terrível da miséria que impede as pessoas de comer e ter acesso a elementos essenciais que caracterizam uma vida digna. A fome está visível, está presente em milhões de lares brasileiros. O cristão não tem o direito de ignorar esta dura realidade.
Uma das características mais marcantes do coração humano é a solidariedade, a compaixão com aqueles que sofrem. O ser humano só consegue compreender a si próprio na solidariedade, ou seja, no exercício sincero e amoroso de colocar-se a serviço do próximo, de respeitar a integridade humana do seu irmão de jornada pelos caminhos por onde anda.
Neste Natal, com toda devoção e humildade que requer, adoremos o Menino Jesus. Contudo, é preciso dar um passo a mais: voltar-se para aqueles que sofrem nestes tempos difíceis. Quer ter um Feliz Natal, voto tão difundido neste dia de uns para os outros? Encontre o Cristo presente numa pessoa necessitada e a ajude. Será o melhor Natal de sua vida!