Nos passos do Senhor ressuscitado

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)

 

“Em meu leito, durante a noite, procurei o amado de minha alma. Procurei-o, e não o encontrei. Vou, pois, levantar-me e percorrer a cidade, pelas ruas e pelas praças, procurando o amado de minha alma. Procurei-o, e não o encontrei. Encontraram-me os guardas, que faziam a ronda pela cidade: ‘Acaso vistes, vós, o amado de minha alma?’” (Ct 3,1-3). Com este texto do Cântico dos Cânticos, propomos fazer um caminho pelas ruas das cidades e da vida, ajudados pelas narrativas das aparições do Senhor Ressuscitado, que nos acompanham nesta Semana da Oitava da Páscoa, para encontrá-lo de novo e sempre mais!

Justamente os guardas, aqueles que rondavam o sepulcro, foram envolvidos na primeira experiência da presença viva de Jesus (Mt 28,8-15). Já chama atenção o fato das mulheres o encontrarem, para que, discípulas fiéis, experimentarem a alegria que lhes tomou o coração e os passos e levarem a notícia aos outros discípulos. E recebem a recomendação de todos seguirem para a Galileia, o que foi sempre entendido como sinal de que ele está presente em nosso dia a dia, marcado pelas lutas e empenhos que a vida oferece. Entretanto, o evento traz consigo a versão que correu a modo de boato, de que os discípulos teriam roubado o Corpo do Senhor. A preço de corrupção, até hoje a versão do burburinho das ruas pode provocar-nos, para que escolhamos a profissão de fé da Igreja e não o indiferentismo e o relativismo reinantes. A fé da Igreja no Cristo morto e ressuscitado de verdade nos faz alegres e ágeis para evangelizar. Ele está vivo, presente e atuante!

No lugar que Jesus reconhece às mulheres, a experiência de Maria Madalena, Apóstola dos Apóstolos é única (Jo 20,11-18). Vejamos! Lágrimas que limpam os olhos, a visão dos anjos, a saudade sentida por aquela que experimentara os frutos da presença do Senhor, comunhão profunda que a faz reconhecê-lo pelo nome pronunciado: “Maria!” “Mestre!” “Eu vi o Senhor”, foi sua palavra aos discípulos. Faz bem lavar os olhos com lágrimas, olhar ao nosso redor, vendo aqueles que pensamos ser jardineiros ou outras tantas profissões, para chegar àquilo que não passa, a certeza da fé no Cristo Ressuscitado, que é reconhecido e imediatamente envia em missão! E tal missão continua hoje, com nossos gestos e palavras que levam o querigma a todos.

Sempre estrada! Agora é o caminho de Emaús (Lc 24,13-35). Discípulos entristecidos, um peregrino talvez parecido com um andarilho, é portador da luz que ilumina as mentes e aquece os corações. Jesus presente no próximo desconhecido, Jesus presente na Palavra que lhes é explicada. Corações que ardem pelo Senhor ainda desconhecido. A casa acolhedora, quando cai a noite, para chegar à plena revelação, quando Jesus parte o Pão com eles. Depois, o caminho de volta a Jerusalém, certamente feito com a presteza da alegria experimentada, e a Igreja reunida, com a notícia da aparição a Simão Pedro, testemunha qualificada. De fato, estrada, amizade, casa acolhedora, pão repartido, distâncias que se encurtam, Igreja reunida, sobejamente o Senhor nos oferece respostas ao perguntarmos pelo amado de nossa alma!

Entretanto, também os outros discípulos passaram pela fadiga do medo e da dúvida (Lc 24,35-48). Se Maria Madalena pensou estar diante de um jardineiro, os discípulos de Emaús consideravam-no peregrino ou andarilho, justamente os apóstolos pareciam estar vendo um fantasma. Maria ouviu seu nome, em Emaús foi sinal o partir do Pão, agora, ao mostrar-lhes aos mãos feridas e os pés, come com eles um pedaço de peixe assado! Impressiona a delicadeza com que trata aqueles homens frágeis na fé, explicando-lhes também as Escrituras! Depois, deveriam sair pelos caminhos do mundo, certos de conhecer muitas pessoas a perguntarem sobre o Salvador. Eles mesmos, com todos os seus limites, recebem a missão de anunciar seu nome, a conversão e o perdão dos pecados. O caminho agora se faz quando as portas se escancararem para o mundo e a missão!

Os Apóstolos, Pedro à frente, tinham muito a amadurecer. Desejaram pescar peixes de novo, quando já tinham sido feitos pescadores de homens, e trabalharam a noite inteira (Jo 21,1-14). Só que sem Jesus presente, nada de resultado! É como acontece conosco, se desejarmos estar na barca da Igreja sem o Senhor Jesus, mesmo se nos julgarmos competentes para convencer os outros! Na praia, uma figura, quem sabe um pescador ou um madrugador a caminhar. Um diálogo de longe, João que reconhece o Senhor, Pedro, sempre ele, pula na água e vai ao seu encontro. Pesca abundante, a rede da unidade da Igreja que não se rompe, e peixes nos quais alguns comentaristas viram um símbolo do Batismo. E ninguém se atrevia a fazer perguntas. Pois sabiam que era o Senhor. Com a fé no Cristo ressuscitado, tudo se transforma, e ele conduz a barca da Igreja à pesca abundante.
No Sábado após a Páscoa a Igreja nos faz abrir também o Evangelho de São Marcos (Mc 16,9-15). Em poucos versículos, estão presentes Maria Madalena, os Discípulos de Emaús, as crises e as dúvidas e a aparição aos onze discípulos, repreendidos pela falta de fé e dureza de coração. Mas são eles mesmos os enviados: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura!”. Começa o longo caminho, com a certeza de que o Senhor não os abandona: “Os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20).

E na Oitava da Páscoa, Domingo da Divina Misericórdia, a Igreja nos propõe meditar e viver duas aparições de Jesus Ressuscitado (Cf. Comentário da Bíblia do Peregrino ao texto de São João) aos seus discípulos (Jo 20,19-31), com alguns traços que podem remeter a uma celebração eucarística: o Dia do Senhor, a presença de Jesus na Comunidade, a reconciliação pelo perdão, a recordação da paixão e o dom do Espírito. As portas trancadas são sinal da nova condição de Jesus, o medo é vencido com a saudação de paz pascal, a dúvida e o desânimo com a identificação corporal de Jesus, que atravessa as barreiras internas e externas do homem. A missão é ato soberano de Jesus para prolongar a própria missão, o sopro é como a criação do homem novo, dotado do alento do Espírito, na força da Ressurreição de Jesus. Alguns dias depois, outra aparição, com a presença de Tomé, incrédulo que pede provas palpáveis. Tomé o encontra quando está com a comunidade, onde poderia ver Jesus e professar a fé. Ironicamente, torna-se testemunha excepcional, um aviso para os que no futuro viriam a crer pelo testemunho apostólico: “Meu Senhor e meu Deus!”. Os que creram sem ter visto agora querem ser felizes e sair pelo mundo anunciando a Ressurreição. Sabemos responder a quem vier ou for por nós procurado que já sabemos onde se encontra o amado e desejado pela humanidade e pela Igreja!

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