Nós pertencemos é a Deus! 

Dom Anuar Battisti 
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

 

A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir acerca da forma como devemos equacionar a relação entre as realidades de Deus e as realidades do mundo. Diz-nos que Deus é a nossa prioridade e que é a Ele que devemos subordinar toda a nossa existência; mas avisa-nos também que Deus nos convoca a um compromisso efetivo com a construção do mundo. A Deus pertence a vida das pessoas, e não aos poderes do mundo. Este dia das missões – com o lema: “Corações ardentes, pés a caminho” – recorda que todos somos missionários a serviço da vida do povo. 

O Evangelho – Mt 22,15-21 – ensina que o homem, sem deixar de cumprir as suas obrigações com a comunidade em que está inserido, pertence a Deus e deve entregar toda a sua existência nas mãs herodianos, percebendo a cilada, a hipocrisia e a malícia de seus oponentes pede que mostrem a moeda do imposto que traziam consigo e, sem tocá-la, diz: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21b). Em primeiro lugar, Jesus faz com que seus adversários, desejo os de Deus. Tudo o resto deve ser relativizado, inclusive a submissão ao poder político. Jesus para responder à questão posta pelos fariseus e pelo sos de expô-lo, sejam obrigados a se exporem. Em segundo lugar, se Jesus respondesse que era correto pagar o tributo, estaria reconhecendo a legitimidade da dominação romana sobre os judeus, colocando-se contra seu próprio povo; se respondesse contrariamente, poderia ser visto e acusado como rebelde à autoridade romana. Jesus, assim, não se abstém de responder, mas propõe a questão de forma diversa: entregue a César a moeda que lhe pertence, pois nela está sua inscrição, mas devolva a Deus o que é de Deus. 

O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, e é preciso “devolver-lhe” – respeitar – essa dignidade. A resposta de Jesus reinvindica os direitos de Deus sobre seus filhos e filhas, que lhe pertencem. O povo é propriedade de Deus, e não de tiranos; as autoridades devem ser servidoras, e não donas do povo. 

A primeira leitura – Is 45,1.4-6 – sugere que Deus é o verdadeiro Senhor da história e que é Ele quem conduz a caminhada do seu Povo rumo à felicidade e à realização plena. Os homens que atuam e intervêm na história são apenas os instrumentos de que Deus se serve para concretizar os seus projetos de salvação. A primeira leitura proclama a supremacia de Deus – “Eu sou o Senhor” – , mas descreve que o próprio Deus elege Ciro, o estrangeiro de Persa, como “seu Ungido”, para que, ao conquistar o reino babilônico, conceda ao judeu a possibilidade de retornar e reconstruir sua nação. Assim, é-nos preparado o caminho de reflexão do texto do Evangelho. 

A segunda leitura – 1Ts 1,1-5 – apresenta-nos o exemplo de uma comunidade cristã que colocou Deus no centro do seu caminho e que, apesar das dificuldades, se comprometeu de forma corajosa com os valores e os esquemas de Deus. Eleita por Deus para ser sua testemunha no meio do mundo, vive ancorada numa fé ativa, numa caridade esforçada e numa esperança inabalável. São Paulo elogia a comunidade de Tessalônica e a elogia por viver o “tripé” que sustenta a comunidade cristã: a fé ativa, que se traduz em obras; o amor, que constrói fraternidade; e a esperança que assegura a caminhada rumo ao futuro. São virtudes que desacomodam e impulsionam o agir cristão. 

E que fique claro: somente quem dá a Deus o que é de Deus, sabe o que dar a César. Aquilo que é de Deus, o fruto do qual o Pai tem fome, é a liberdade dos filhos e o amor pelos irmãos. Nós pertencemos é a Deus! 

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