Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

No dia 12 de dezembro seria a festa litúrgica de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira principal do México e da América Latina. Neste ano, porém, o terceiro domingo do advento se sobrepõe a esta grande solenidade latino-americana. Mas podemos assim mesmo refletir sobre esse dia com as comunidades especiais que a tem como padroeira. Esse dia está inserido dentro do Tempo do Advento e nos aponta para o mistério do Natal que celebraremos.

Um significado especial tem a festa de Nossa Senhora de Guadalupe neste ano: celebrou-se de 21 a 27 de novembro passado, junto ao Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, a Ia. Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe — aos pés da Virgem de Guadalupe —, assim como o seu processo de escuta do Povo de Deus, o seu itinerário espiritual e a sua posterior implementação, um marco no caminhar dos discípulos missionários do nosso continente. Leigos e leigas, religiosas e religiosos, diáconos, seminaristas, sacerdotes, bispos, cardeais e pessoas de boa vontade, fizeram parte deste grande evento eclesial, sob a proteção de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina e do Caribe, à medida que nos aproximamos da celebração do 500º aniversário do Evento Guadalupano e do 2000º aniversário da nossa Redenção (2031+2033).

Nossa Senhora de Guadalupe é a virgem dos pobres, mas sobretudo, daqueles que têm o coração humilde para amar a Deus e ao próximo. Nossa Senhora sempre vem em socorro daqueles que mais precisam e age em favor dos pequeninos do reino. O que Nossa Senhora deseja é que todo o povo amadureça na fé e creia N’Ela e no seu filho Jesus.

Assim como nas outras aparições de Nossa Senhora, Ela recebe o título do local onde ela aparece. Nossa Senhora é sempre a mesma Mãe de Jesus. Mas quando aparece aos pastorzinhos em Fátima, recebe o título de Fátima; quando “aparece” aqui no rio Paraíba em Aparecida, recebe o título de Aparecida. O mesmo ocorre em Guadalupe: Nossa Senhora aparece no México, mas pede que a chamem de Guadalupe e que ali, no alto monte, construam um Santuário em sua memória.

Em 1531, a Virgem Santíssima apareceu a um indígena que caminhava de seu lugarejo, rumo a cidade do México, com o intuito de participar da catequese e da Santa Missa. Ele estava na colina de Tepeyac, perto da capital Mexicana. O índio era recém-convertido e chamava-se Juan Diego (canonizado pelo Papa São João Paulo II em 2002).

Nossa Senhora faz um pedido ao Índio. Ela pede para ele ir até o bispo local solicitando que, naquele lugar, fosse construído um santuário para a honra e a glória de Deus. O bispo local fica surpreso e usando de prudência e sabedoria, pediu ao índio um sinal da Virgem Maria, que somente na terceira aparição lhe foi concedido. Isso ocorreu quando Juan Diego buscava um sacerdote para o tio doente. Nossa Senhora aparece ao índio e lhe transmite uma mensagem: “Escute, meu filho. Não há nada o que temer, não fique preocupado nem assustado; não tema esta doença, nem outro qualquer dissabor ou aflição. Não estou eu aqui, a seu lado? Eu sou a sua Mãe dadivosa. Acaso não o escolhi para mim e o tomei aos meus cuidados? Que deseja mais do que isto? Não permita que nada o aflija e o perturbe. Quanto à doença do seu tio, ela não é mortal. Eu lhe peço, acredite agora mesmo, porque ele já está curado. Filho querido, essas rosas são o sinal que você vai levar ao Bispo. Diga-lhe em meu nome que, nessas rosas, ele verá minha vontade e a cumprirá. Você é meu embaixador e merece a minha confiança. Quando chegar diante dele, desdobre a sua “tilma” (manto) e mostre-lhe o que carrega, porém, só em sua presença. Diga-lhe tudo o que viu e ouviu, nada omita”.

Juan Diego fez tudo como a Virgem Maria lhe orientou: foi diante do bispo; abriu o manto e mostrou as rosas; além das rosas, o rosto de Nossa Senhora estava cravado no manto de Juan Diego. O bispo levou o manto que estava retratado o rosto da Virgem, junto com as rosas, para a capela e, em meio as lágrimas, pediu perdão a Nossa Senhora. Era o dia 12 de dezembro de 1531.

A confirmação do milagre se deu quando o índio foi visitar o seu tio que, com a saúde restabelecida, afirmou: “Eu também a vi. Ela veio a esta casa e falou a mim. Disse-me também que desejava a construção de um templo na colina de Tepeyac e que sua imagem seria chamada de Santa Maria de Guadalupe”. Diante desses fatos, muitos se converteram e o santuário foi construído. Desde então, até aos dias de hoje, inúmeras pessoas acorrem ao santuário, pedindo e agradecendo a Virgem Maria.

O grande milagre de Nossa Senhora de Guadalupe é a sua própria imagem. O tecido, feito de cacto, não dura mais do que vinte anos e esse já dura há mais de quatro séculos e meio. Durante dezesseis anos, a tela esteve totalmente desprotegida, sendo que nunca foi retocada. Até hoje, os peritos em química não encontraram na tela nenhum sinal de corrupção.

Certa vez o Papa Bento XIV declarou: “Nela, tudo é milagroso: uma Imagem que provém de flores colhidas num terreno totalmente estéril, no qual só podem crescer espinheiros… Uma Imagem estampada numa tela tão rala que através dela pode se enxergar o povo e a nave da Igreja… Deus não agiu assim com nenhuma outra nação”.

A imagem da Virgem de Guadalupe foi coroada em 1875, durante o pontificado de Leão XIII. Ela foi declarada padroeira de toda a América Latina, pelo papa Pio XII, no dia 12 de outubro de 1945. Ainda em 27 de janeiro de 1979, o Papa João Paulo II visitou o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe e consagrou a Mãe Santíssima toda a América Latina.

Portanto, essa é a linda história de Nossa Senhora de Guadalupe. Tomemos para nós o exemplo do índio Juan Diego e que nunca deixemos de acreditar na presença materna de Nossa Senhora junto de nós.

Nossa Senhora de Guadalupe está nos apontando um caminho de conversão pessoal e pastoral: uma Igreja sinodal — da escuta e da compaixão — para tornar o Evangelho mais vivido, proclamado e seguido. Façamos como Maria Santíssima: em tudo fazei o que Jesus vos pedir!

Que a mãe Santíssima interceda por cada um de nós e pelo povo da América Latina e que Ela sempre nos ensine a fazer tudo o que Jesus nos disser. Peçamos a sua intercessão — particularmente, que Ela nos afaste da peste e que a vacinação seja completa para que todos possamos testemunhar publicamente o Redentor!

 

 

Tags:

leia também