Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

O Espírito do Advento consiste, em boa parte, em vivermos muito unidos à Virgem Maria neste tempo em que Ela traz Jesus em seu seio. A Liturgia nos fala e nos ensina, por meio de três grandes guias: Isaías, João Batista e Maria — o profeta, o precursor e a Mãe.

Hoje é a vez de Maria (Nossa Senhora do Ó). Ela nos ajuda a intensificar e a concentrar nossa espera: “Aquele que deve vir” já chegou; o mistério escondido desde séculos em Deus (Ef 3,9) faz nove meses se encontra no seio de Maria! Nossa Senhora fomenta na alma a alegria, porque, quando procuramos a sua intimidade, leva-nos a Cristo. Ela é “Mestra de esperança. Maria proclama que a chamarão bem-aventurada todas as gerações” (Lc 1, 48).

Se Advento significa espera de Cristo, Maria é a espera em pessoa. A espera teve para Ela o sentido realista e delicado que esta palavra tem para cada mulher que espera o nascimento de uma criança. É assim que devemos imaginar Nossa Senhora na iminência do Natal: com aquele olhar amável, dirigido mais para dentro do que para fora de si, que se nota numa mulher que carrega no seio uma criatura e parece que já a contempla e com Ela dialoga. Maria manteve com seu Filho uma comunhão ininterrupta de amor, como uma pessoa que recebeu a Eucaristia.

O Evangelho (Lc 1, 39-48) narra o encontro de duas mães, que vibram de alegria com a realização das promessas: a visita de Maria à sua prima Isabel. Este episódio não é um simples gesto de gentileza, mas representa com grande simplicidade o encontro do Antigo Testamento com o Novo. As duas mulheres, ambas grávidas, encarnam de fato a expectativa e o Esperado. A idosa Isabel simboliza Israel que espera o Messias; enquanto a jovem Maria traz em Si o cumprimento desta expectativa, em benefício de toda a humanidade.

Nas duas mulheres encontram-se e reconhecem-se, antes de tudo, os frutos do seio de ambas: João Batista e Jesus Cristo. Comenta o poeta cristão Prudêncio: “O menino contido no seio senil saúda, pelos lábios de sua mãe, o Senhor filho da Virgem”. A exultação de João Batista no seio de Isabel é o sinal do cumprimento da expectativa: Deus está para visitar o seu povo. Na anunciação, o Arcanjo Gabriel tinha falado a Maria da gravidez de Isabel (Lc 1, 36) como prova do poder de Deus: a esterilidade, não obstante ela fosse idosa, tinha se transformado em fertilidade.

A cena da Visitação expressa também a beleza do acolhimento: onde há acolhimento recíproco e escuta, onde se dá espaço ao outo, ali estão Deus e a alegria que vem d’Ele. Imitemos Maria no tempo de Natal, visitando quantos vivem em dificuldade, em particular os doentes, os presos, os idosos e as crianças. Não esquecemos de socorrer os que vivem nas periferias geográficas e existenciais de nossas cidades. Imitemos, também, Isabel que acolhe o hóspede como o próprio Deus: sem O desejar, nunca conheceremos o Senhor; sem O esperar, não O encontraremos; sem O procurar, não O descobriremos. Com a mesma alegria de Maria que vai às pressas ter com Isabel (Lc 1, 39), vamos também nós ao encontro do Senhor que vem.

Quem aguarda o Salvador, não pode esquecer a sua Mãe!

Após a Anunciação, em que deu o seu SIM a Deus, Maria se põe a caminho… e vai às pressas à casa de Isabel. Maria nos ensina o melhor jeito de acolher: estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades.

Dentro de poucos dias veremos Jesus reclinado numa manjedoura, o que é uma prova de misericórdia e do amor de Deus. Nasce em Belém, a Casa do Pão, é reclinado numa manjedoura, local de alimentação e não veio como hospede (não havia lugar na hospedaria) e sim como o Senhor que serve e conduz o povo para o Pai. Poderemos dizer: nesta noite de Natal, tudo para dentro de mim. Estar diante d’Ele, não há nada mais do que Ele na branca imensidão. Não diz nada, mas está aí… Ele é o Deus amando-me. E se Deus se faz homem e me ama, como não procura-Lo? Como perder a esperança de encontrá-Lo, se é Ele que me procura? Afastemos todo o possível desalento; as dificuldades exteriores e a nossa miséria pessoal não podem nada diante da alegria do Natal que se aproxima.

Nas festas que celebramos por ocasião do Natal, lutemos com todas as nossas forças, agora e sempre, contra o desânimo na vida espiritual, o consumismo exagerado e a preocupação quase exclusiva pelos bens materiais. Na medida em que o mundo se cansar da sua esperança cristã, a alternativa que lhe há de restar será o materialismo, do tipo que já conhecemos — isso e nada mais. Por isso, nenhuma nova palavra terá atrativo para nós se não nos devolver à gruta de Belém, para que ali possamos humilhar o nosso orgulho, aumentar a nossa caridade e dilatar o nosso sentimento de reverência com a visão de uma pureza deslumbrante.

A devoção a Nossa Senhora é a maior garantia de que não nos faltarão os meios necessários para alcançarmos a felicidade eterna a que fomos destinados. Maria é verdadeiramente “porto dos que naufragam, consolo do mundo, resgate dos cativos, alegria dos enfermos” (Santo Afonso Maria de Ligório, bispo e doutor da Igreja). Nestes dias que precedem o Natal e sempre, peçamos-Lhe a graça de saber permanecer, cheios de fé, à espera do seu Filho Jesus Cristo, o Messias anunciado pelos Profetas.

Ajude-nos Maria a manter o recolhimento interior indispensável para viver a profunda alegria que o nascimento do Redentor traz. Dirijamo-nos a Ela com a nossa oração, pensando sobretudo em quantos se preparam para transcorrer o Natal na tristeza e na solidão, na doença e no sofrimento: a todos a Virgem dê conforto e consolo.

 

 

 

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