Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! A Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo fecha o ciclo das celebrações do Ano Litúrgico. A Igreja, mãe e educadora na fé, convida seus filhos e filhas a refletirem sobre o reinado de Cristo, marcado pela paz e a fé, que renova a nossa esperança de povo de Deus a caminho, “peregrinos de esperança”, em relação à vida, ao amanhã e à humanidade.
No dia da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, celebramos também o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas, e temos a abertura da Campanha para a Evangelização. Como filhos e filhas de Deus, pela graça do santo Batismo, somos convidados a redescobrir, através da escuta da Palavra de Deus, o fundamento da liberdade interior, que nos permite continuar a crer em Cristo Jesus, o Filho de Deus, nosso Senhor e Rei do Universo. Essa liberdade interior pode estar fragilizada ou ameaçada por tantas formas de poder, que procuram subjugar o homem e a sua liberdade de crer num Deus que é Pai misericordioso, que por amor enviou ao mundo seu amado Filho, Jesus Cristo.
Celebrar a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo é fazer memória de um reinado que nasce na fragilidade da coroa de espinhos, da entrega, como cordeiro imolado na cruz, no altar do Gólgota, mas destinado pela graça de Deus a reinar na história e no tempo, pelos séculos eternos. Às vezes, somos tão marcados pelas estruturas do poder presentes no mundo, que temos dificuldades em aceitar e crer que o reinado de Cristo envolve o coração dos homens e mulheres que peregrinam no mundo, mas ele não pertence ao mundo terreno, à realidade civil. O reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo é um reinado espiritual. Portanto, despojado do ódio, do espírito de vingança, da força das armas, do egoísmo e da indiferença. É um reinado marcado pelo amor, compaixão, misericórdia e paz; uma realidade dinâmica, onde o divino toca a realidade humana e age na vida das pessoas de fé e através da história pelos séculos infinitos, mas transcende a realidade terrena.
A realeza de Jesus é, portanto, diversa daquela humana, porque marcada pela humildade, despojamento, amor, doação e compaixão pelos que sofrem. É a realeza que nasce não do poder, mas do serviço, da fidelidade e da entrega ao Pai. Sem a fé, teríamos dificuldades de entender e reconhecer o senhorio de Cristo na nossa vida e na história. A fé, que é relação de amor com Cristo, conduz ao único tipo de submissão que não faz nascer no homem o desejo de vingança ou a frustração por sentir-se dominado, mas amado e acolhido pelo amor misericordioso de Deus.
Devemos ter presente que o reinado de Cristo se realiza dia após dia, de modo misterioso, como o silêncio que, através da graça, liberta os homens e, por meio deles, todas as criaturas da escravidão do pecado e as une a Ele, em uma obediência livre e alegre. Não é um reinado que se impõe com a violência humana ou com a potência dos homens, mas que emana da oferta de si mesmo, da entrega por amor da sua vida na Cruz.
