Dom Jaime Spengler
Arcebispo metropolitano de Porto Alegre
Primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
“O futuro entra em nós, para se transformar em nós muito antes que aconteça” (R.M. Rilke). Quando a perspectiva de um futuro viável entra no presente, então o presente muda, pois foi tocado pela realidade futura.
Cada geração é convidada a dar a própria contribuição para que a geração seguinte possa experimentar, realizar e promover o reto uso da liberdade. É isso que permite, de certo modo, prover e prever um futuro sadio.
O ser humano é marcado pelo seu enraizamento na história e pela perspectiva de novos horizontes, pela necessidade de interioridade e desejo de universalidade. Ele é encarnado na história e aberto à transcendência.
Transcender-se não significa fugir da própria condição, mas nela mergulhar: “transcender é humanizar-se”.
Transcender-se, buscar novos horizontes, permite romper e ultrapassar barreiras e resistências. Dispor-se a essa busca, representa um vigoroso estímulo para sondar o sentido da própria existência: a verdade, a liberdade, o bem, o belo, o amor. Orientado por tal disposição, a pessoa vai intuindo em que consiste a própria maturidade, proporcionando-lhe equilíbrio interior, lucidez mental e limpidez afetiva.
Resgatar as próprias raízes e dispor-se a novos horizontes permite viver mais profunda e autenticamente. Permite à pessoa harmonizar todos os níveis da existência: corpo, mente, afetos e coração, e integra-se com a fonte da vida.
Numa época marcada por autossubjetividade e autorreferencialidade, na qual um sinal contundente seja, talvez, o número de adolescentes e jovens que se automutilam e cometem suicídio, devido à sensação de incompreensão, inutilidade, culpa, desamparo, desamor, falta de referências seguras e horizontes maiores, recordar a necessidade de promover o conhecimento das próprias raízes e de novos horizontes se torna para todos um imperativo. Ocultar os dados, omitir a questão e dispensar-se de responsabilidade significa optar por alienação, negligência e hipocrisia.
Os cristãos são pessoas de confiança e testemunhas da esperança. Por isso, chamados a oferecer orientação e valores, deixando-se tocar pelos desafios do tempo.
As semanas que antecedem o Natal representam ocasião propícia para rever comportamentos e reacender a esperança. Urge renovar a alegria de viver!