O amor de Jesus no Espírito Santo!

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

A liturgia do 6º Domingo da Páscoa convida-nos a descobrir a presença – discreta, mas eficaz e tranquilizadora – de Deus na caminhada histórica da Igreja. A promessa de Jesus – “não vos deixarei órfãos” – pode ser uma boa síntese do tema.

O Evangelho – Jo 14,15-21 – apresenta-nos parte do “testamento” de Jesus, na ceia de despedida, em Quinta-feira Santa. Aos discípulos, inquietos e assustados, Jesus promete o “Paráclito”: Ele conduzirá a comunidade cristã em direção à verdade; e levá-la-á a uma comunhão cada vez mais íntima com Jesus e com o Pai. Dessa forma, a comunidade será a “morada de Deus” no mundo e dará testemunho da salvação que Deus quer oferecer aos homens.

Jesus promete que enviará “outro Defensor” e que voltará vivo para junto dos seus. Nesse trecho, apesar do ambiente de tristeza e de despedida, observa-se a dimensão futura e perene dos tempos escatológicos, depois da Páscoa da Ressurreição de Jesus. Ele promete não deixar sua comunidade órfã. Ele vive e retornará vivo para permanecer junto com os seus amigos para sempre. Alegrar-se-ão e entenderão, também, que Jesus está e permanece neles e eles estão e permanecem em Jesus. Ele assegura, ainda, e promete o envio do Espírito Santo, atribuindo-lhe o caráter de “outro” Defensor e de Espírito da Verdade. Jesus, o Defensor (1Jo 2,1), roga ao Pai para que dê a comunidade dos discípulos o Espírito Santo, o outro Defensor, para que permaneça sempre na vida da comunidade e em cada discípulo. O Espírito Santo permanecerá dentro de casa ser humano fiel a Jesus, enchendo-o de sua graça. Permanecerá junto e ao lado de cada discípulo, como advogado perpétuo, defendendo e protegendo na missão cotidiana de cada um e da comunidade em sua inteireza. O outro Defensor é, ainda, o Espírito da Verdade contraposto ao pai da mentira (Jo 8,44) e príncipe deste mundo (Jo 14,30; 16,11). Contrariamente ao discípulo, que pertence ao Mestre (Jo 15,19), quem é do mundo não pode conhecer o Espírito, pois conhecer significa ter intimidade. Apenas quem é íntimo de Jesus receberá dele o dom de estabelecer comunhão de vida com o Espírito Divino, que permanecerá sempre dentro e junto do fiel.

A primeira leitura – At 8,5-8.14-17 – mostra exatamente a comunidade cristã a dar testemunho da Boa Nova de Jesus e a ser uma presença libertadora e salvadora na vida dos homens. Avisa, no entanto, que

o Espírito só se manifestará e só atuará quando a comunidade aceitar viver a sua fé integrada numa família universal de irmãos, reunidos à volta do Pai e de Jesus. Com Filipe, a Palavra de Deus rompe fronteiras geográficas e religiosas e chega aos samaritanos – que não eram bem-vistos pelos judeus – , provocando muita alegria entre eles. Pedro e João invocam o Espírito sobre os samaritanos, o mesmo que os cristãos de Jerusalém receberam. A Palavra de Deus não tem fronteiras.

A segunda leitura – 1Pd 3,15-18 – exorta os batizados – confrontados com a hostilidade do mundo – a terem confiança, a darem um testemunho sereno da sua fé, a mostrarem o seu amor a todos os homens, mesmo aos perseguidores. Cristo, que fez da sua vida um dom de amor a todos, deve ser o modelo que os cristãos têm sempre diante dos olhos. Pedro escreve as comunidades que sofriam e as encoraja a manter a esperança, mesmo no meio das tribulações, seguindo o exemplo de Jesus. O desafio é não imitar o comportamento da sociedade injusta, mas enfrentar o mal com o bem. Mansidão, respeito e consciência limpa são o caminho para enfrentar grosseria, violência e corrupção.

O amor a Jesus abre e fecha o texto sagrado de hoje. Amar a Jesus é nos deixarmos animar pelo dinamismo do seu amor, que sempre nos leva ao outro, para sermos testemunhas do amor misericordioso do Pai. Jesus continua vivo em nosso meio, ressuscitado, a nos acompanhar com o Paráclito, o Espírito Defensor que nos mantém perseverantes ao amor!

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