Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
Celebrar o Dia da Filantropia é reconhecer, com gratidão e esperança, a presença silenciosa e transformadora do amor cristão que se traduz em serviço ao próximo. A palavra “filantropia”, que significa amor à humanidade, encontra no Evangelho o seu sentido mais pleno: “Tudo o que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos, é a mim que o fazeis” (Mt 25,40). É neste espírito que se realiza a missão de tantas instituições que, movidas pela fé e pela caridade, dedicam sua existência a cuidar da vida, promover a dignidade e aliviar o sofrimento humano.
Entre essas obras de amor, destaco o testemunho do Instituto de Cooperação para o Desenvolvimento da Saúde (ICDS), que exerce com fidelidade o compromisso cristão da filantropia ao unir gestão eficiente, transparência e compaixão. O ICDS não busca o lucro, mas o bem; não acumula riquezas, mas reparte cuidado. Sua atuação é uma expressão concreta do Evangelho vivido no cotidiano das políticas públicas de saúde, pois cada gesto de atenção, cada tratamento oferecido e cada acolhida humanizada é, em si, um ato de evangelização.
O instituto tem dedicado especial atenção àqueles que mais necessitam por meio de projetos filantrópicos que expressam o verdadeiro rosto da Igreja servidora. O CECAN Mogi, em Mogi das Cruzes, oferece atendimento humanizado e integral a pessoas com câncer, cuidando da pessoa inteira — corpo, mente e espírito. Nesse espaço, o amor de Cristo se manifesta em cada profissional que acolhe, escuta e acompanha, lembrando-nos de que a cura também passa pelo consolo e pela fé.
Já o CECAN-CETESP, em Santana do Paraíso, atua com crianças neuroatípicas, promovendo inclusão, desenvolvimento e afeto. Em cada criança acolhida, vemos refletido o rosto de Jesus, que dizia: “Deixai vir a mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus” (Mt 19,14). Ali, o cuidado especializado se une ao amor que acredita no potencial de cada ser humano, revelando que a filantropia é também um compromisso com o futuro, com a vida plena e com a esperança.
A Igreja sempre ensinou que a caridade não é um simples gesto de boa vontade, mas uma dimensão essencial da fé. O Papa Bento XVI recordava, na encíclica Deus Caritas Est, que “a caridade é o coração da missão da Igreja” — e o Papa Francisco tem insistido que ela deve ser “criativa, concreta e próxima”. O ICDS, ao dedicar sua receita à filantropia e colocar sua competência técnica a serviço do bem comum, realiza o que o Santo Padre chama de “Igreja em saída”: uma Igreja que vai ao encontro das dores do povo e transforma o cuidado em missão.
O Dia da Filantropia, portanto, não é apenas uma data comemorativa, mas uma oportunidade de conversão social e espiritual. Somos convidados a refletir sobre o quanto de nossas ações realmente nasce do amor e quanto ainda precisamos fazer para que a solidariedade seja um valor cotidiano. Ser filantrópico, à luz do Evangelho, é assumir o chamado à compaixão e à justiça; é cuidar de quem sofre, partilhar com quem tem menos e agir com misericórdia, porque Deus é amor.
Neste tempo em que a indiferença tantas vezes se disfarça de eficiência, e o individualismo parece prevalecer sobre o bem comum, testemunhos como o do ICDS reacendem a esperança e mostram que é possível unir fé, ciência e gestão em prol da vida. Que o exemplo dessa obra inspire outras instituições e profissionais a compreenderem que servir é a maior forma de amar.
Que Maria, Mãe da Misericórdia, abençoe todos os que se dedicam à filantropia, e que cada gesto de cuidado, cada sorriso partilhado e cada vida salva sejam sementes do Reino de Deus que cresce no meio de nós.
