O banquete do Reino é para todos, todos, todos! 

Dom Anuar Battisti
Arcebispo emérito de Maringá (PR)

 

 

A liturgia do 28º Domingo do Tempo Comum utiliza a imagem do “banquete” para descrever esse mundo de felicidade, de amor e de alegria sem fim que Deus quer oferecer a todos os seus filhos. O Senhor, que põe um fim à desonra de seu povo, prepara-nos o banquete em sua casa, para celebrarmos sua salvação. A Igreja em saída, fazenda da sinodalidade seu modo de ser, compartilha as dificuldades da humanidade e anuncia a alegria e a esperança do Evangelho pelos caminhos e encruzilhadas, convidando a todos. Vestidos com o traje de festa, tomemos parte na comunidade-esposa de Cristo. 

Na primeira leitura – Is 25,6-10a., Isaías anuncia o “banquete” que um dia Deus, na sua própria casa, vai oferecer a todos os Povos. Acolher o convite de Deus e participar nesse “banquete” é aceitar viver em comunhão com Deus. Dessa comunhão resultará, para o homem, a felicidade total, a vida em abundância. A primeira leitura evoca Ap 7,17;21,4. Preparando para a meditação do Evangelho diz que “o Senhor dará um banquete de ricas iguarias, eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces”.  

O texto da primeira leitura apresenta três propostas de felicidade que Deus nos faz: 1 – o banquete oferecido a todos os povos – o Senhor deseja vida digna a todo o povo, com desfrute de alimento rico e saudável; 2 – a remoção do véu – teia – que esconde as nações – símbolo do luto e de sofrimento, o véu precisa ser tirado da vida sofrida do povo; 3 – a morte destruída para sempre, com a eliminação de toda dor e sofrimento. 

O Evangelho – Mt 22,1-14 – sugere que é preciso “agarrar” o convite de Deus. Os interesses e as conquistas deste mundo não podem distrair-nos dos desafios de Deus. A opção que fizemos no dia do nosso baptismo não é “conversa fiada”; mas é um compromisso sério, que deve ser vivido de forma coerente. 

A parábola é de cunho nupcial. O termo gamos (casamento), no texto grego, ocorre sete vezes (Mt 22, 2.3.4.8.9.11.12) e evoca Ap. 19,7.9. Os convidados são bem-aventurados, mas nem todos. Muitos não aceitaram o convite. O rei – o Pai – então, mandou chamar “maus e bons”, que fossem encontrados nas encruzilhadas dos caminhos – alusão à universalidade do Reino e do anúncio pelos discípulos missionários, em todos os tempos. O detalhe, “maus e bons” indica a natureza da própria Igreja: são chamados os considerados indignos, aqueles que ninguém esperaria – ou espera! – que fossem convidados. Deus, por seu Filho, no entanto, usa de misericórdia, deseja a salvação de todos e “peleja” por ela. No entanto, é necessário que se aceite, que se diga sim! O salão de festas ficou cheio, mas havia uma pessoa ali sem o traje de festas. O traje de festa, na Bíblia simbolizado pelas vestes de linho branco, são as boas obras dos justos (Gn 41,42; Ez 16,10.13; Dn 10,5; Ap 19,8). Quem são, hoje, os convidados que não aceitam o chamado para o banquete do Reino? E os missionários do Reino são perseverantes, continuam pelos caminhos convidando para a festa do Reino? Se Deus não desiste, a Igreja missionária, que somos nós, os batizados, não pode desistir. A missão é própria da natureza da Igreja e dos batizados. 

Na segunda leitura – Fl 4,12-14.19-20 –, Paulo apresenta-nos um exemplo concreto de uma comunidade que aceitou o convite do Senhor e vive na dinâmica do Reino: a comunidade cristã de Filipos. É uma comunidade generosa e solidária, verdadeiramente empenhada na vivência do amor e em testemunhar o Evangelho diante de todos os homens. A comunidade de Filipos constitui, verdadeiramente, um exemplo que as comunidades do Reino devem ter presente. 

Paulo declarando já ter enfrentado momentos de miséria e de abundância, demonstra que nada o desanima na missão. Isso não significa se acomodar diante de situações adversas; significa, antes de tudo, que nem a pobreza e nem a riqueza o desviam do objetivo, pois a esperança que o sustenta é Deus: “Tudo posso naquele que me dá força”. Sabe, porém, agradecer a contribuição das comunidades, que cuidam bem dele. 

O Reino de Deus assemelha-se a um banquete onde todos podem participar e se alegrar. Onde há comida farta. Onde não há discriminação nem preconceito. Onde todos buscam conviver em harmonia. Onde existe comida partilhada, existe a festa, a alegria, a convivência amiga e fraterna. Cada um decide se participa do banquete de todos, maus e bons, ou se prefere cuidar do “seu campo” e do “seu negócio”. 

O Deus de Jesus não está acima de tudo e nem de todos, mas está presente no ser humano, caminha conosco neste mundo. Ele se aproxima decididamente das fragilidades e carências da humanidade. Jesus se revela um Pai que se aproxima e acolhe o pecador, abaixa-se para levantar o caído e o desprezado. O Deus de Jesus convida a todos ao banquete do Reino, e a condição para dele participar é dispor-se a assumir uma nova mentalidade. 

De simples discípulos do Mestre tornamo-nos mestres de complexidade, que argumentam muito e fazem pouco, que procurarm respostas mais diante do computador do que do crucifico, na internet em vez de procurá-las nos olhos dos irmãos e irmãs. O Reinado de Cristo e o seu banquete é para todos, todos, todos! 

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