Outubro é um mês profundamente simbólico para a Igreja. Logo em seus primeiros dias, celebramos São Francisco de Assis, o santo da pobreza e da entrega total a Cristo. Poucos dias depois, voltamos nosso olhar à Mãe Aparecida, padroeira do Brasil, cuja imagem foi encontrada nas redes de humildes pescadores — sinal da presença de Deus que se revela na simplicidade. Estes dois acontecimentos nos recordam que a santidade nasce não do poder, nem das grandes obras humanas, mas da docilidade ao Espírito e da capacidade de amar com pureza e verdade.
São Francisco não escolheu apenas os pobres — ele escolheu Jesus Cristo. E ao escolher Cristo, escolheu também o caminho da cruz, da humildade, da fraternidade e da obediência amorosa. Sua vida nos ensina que as regras, as estruturas e as normas da Igreja são instrumentos necessários, mas não podem se tornar fins em si mesmas. São como placas de sinalização numa estrada: indicam o rumo, mas não substituem o caminho. Quando o cristão se prende apenas à regra e esquece o amor, torna-se prisioneiro da letra e perde o espírito.
A imagem de Nossa Senhora Aparecida, resgatada das águas por pescadores simples, é um lembrete de que Deus continua se manifestando aos pequenos. O mesmo Jesus que chamou pescadores às margens do lago continua hoje chamando homens e mulheres — padres, leigos, religiosos e bispos — a lançar suas redes em águas mais profundas. Ele não nos pede perfeição exterior, mas um coração disponível, sensível e capaz de ver o rosto de Deus no outro.
Nos tempos atuais, quando a Igreja enfrenta desafios internos e externos, há o risco de buscarmos segurança apenas nas normas ou nos discursos. Contudo, o Evangelho nos convida a algo maior: a viver o amor encarnado, a misericórdia concreta, o testemunho vivo da fé. Francisco e Maria nos mostram que o caminho é o mesmo: seguir Jesus, amar como Ele amou, viver como Ele viveu e sentir como Ele sentiu.
Ser discípulo de Cristo, hoje, é mais do que obedecer a um conjunto de regras — é deixar que cada regra, cada orientação, nos aproxime ainda mais d’Ele. A santidade não está em cumprir apenas, mas em compreender o sentido do cumprimento. As leis eclesiais são faróis; Cristo é a luz. Que saibamos, como Francisco, transformar a obediência em amor, e como Maria, transformar o amor em serviço.
Neste mês missionário, sejamos verdadeiros apóstolos — homens e mulheres que anunciam o Evangelho com a vida. Que a simplicidade de Francisco e a fé dos pescadores de Aparecida nos inspirem a redescobrir o essencial: viver e caminhar com Jesus, rumo à plenitude do Reino.
