Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
A liturgia do 30º domingo Comum diz-nos, de forma clara e inquestionável, que o amor está no centro da experiência cristã. O que Deus pede – ou antes, o que Deus exige – a cada batizado é que deixe o seu coração ser submerso pelo amor.
O Evangelho – Mt 22,34-40 – diz-nos, de forma clara e inquestionável, que toda a revelação de Deus se resume no amor – amor a Deus e amor aos irmãos. Os dois mandamentos não podem separar-se: “amar a Deus” é cumprir a sua vontade e estabelecer com os irmãos relações de amor, de solidariedade, de partilha, de serviço, até ao dom total da vida. Tudo o resto é explicação, desenvolvimento, aplicação à vida prática dessas duas coordenadas fundamentais da vida cristã.
Um fariseu, para pôr Jesus à prova, isto é, para saber da sua competência e sabedoria relacionadas aos Mandamentos da Lei, pergunta-lhe: “qual é o maior mandamento?” Respondendo, Jesus coliga os dois principais mandamentos da Lei bíblica e da tradição judaica. Amar a Deus (Dt 6,4-5) e ao próximo (Lv 19,18) é a síntese de toda Lei e dos profetas – de toda a Escritura. O amor pleno e incondicional a Deus se revela no amor concreto e intenso, equivalente ao amor por si próprio, pelo próximo, o pobre e o estrangeiro, a viúva e órfão, os desamparados e os abandonados, os sem-teto, os famintos, os encarcerados
A primeira leitura – Ex 22,20-26 – garante-nos que Deus não aceita a perpetuação de situações intoleráveis de injustiça, de arbitrariedade, de opressão, de desrespeito pelos direitos e pela dignidade dos mais pobres e dos mais débeis. A título de exemplo, a leitura fala da situação dos estrangeiros, dos órfãos, das viúvas e dos pobres vítimas da especulação dos usurários: qualquer injustiça ou arbitrariedade praticada contra um irmão mais pobre ou mais débil é um crime grave contra Deus, que nos afasta da comunhão com Deus e nos coloca fora da órbita da Aliança. Acolher e assistir os irmãos, na figura do estrangeiro, da viúva, do órfão e do pobre, é a expressão do mais fino e mais concreto amor ao próximo como Jesus ensina e exorta no Evangelho.
A segunda leitura – 1Ts 1,5c-10 – apresenta-nos o exemplo de uma comunidade cristã (da cidade grega de Tessalônica) que, apesar da hostilidade e da perseguição, aprendeu a percorrer, com Cristo e com Paulo, o caminho do amor e do dom da vida; e esse percurso – cumprido na alegria e na dor – tornou-se semente de fé e de amor, que deu frutos em outras comunidades cristãs do mundo grego. Dessa experiência comum, nasceu uma imensa família de irmãos, unida à volta do Evangelho e espalhada por todo o mundo grego.
A vivência concreta do Evangelho nem sempre é fácil, mas muitas comunidades dão exemplo de que não é algo impossível.
Para Jesus, o amor é a realização plena da Lei. E aqui o amor é mais do que um sentimento, é atitude. O que ele ensina aos discípulos, antes viveu: “Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam do modo como eu fiz” (Jo 13,15)
Cuidemos, pois, dos mais pobres, representados pelas viúvas, os órfãos e os estrangeiros. Toda miséria, fome e sorte de precariedade seja combatida com empatia e sensibilidade cristã vivendo o amor em todas as circunstâncias como testemunhas do Senhor Ressuscitado.
O amor a Deus e ao próximo é o centro da vida cristã. O Senhor, nossa força e salvação, nos une em torno da Santíssima Eucaristia, expressão do seu amor misericordioso para com todos. Dispostos a viver sinodalmente a missão como identidade permanente de nossa comunidade de fé, com “os corações ardentes e os pés a caminho”, celebramos em comunhão com os jovens neste dia Nacional da Juventude. Que sejamos transmissores do amor de Cristo e da Igreja!