Neste domingo, após a sua coroação, a imagem encontrada por Plácido no Igarapé Murutucu retorna ao “glória” depois de uma curta permanência de 3 dias na berlinda ao lado do altar para comemorar o final do mês mariano (maio) e também mais um aniversário do reconhecimento de nossa Basílica como Santuário, ou seja, meta de peregrinações.
São mais de 300 anos de história e de devoção de um povo que tornou o “Círio de Nazaré” um momento marcante na vida do povo paraense e que continua pesar das mudanças culturais, religiosas, sociais, éticas. A cidade cresceu e com ela também cresceu essa manifestação.
O tema deste ano “em Belém de Maria, escolhemos a vida como missão” está ligado à Campanha da Fraternidade (escolhe, pois, a vida) e à missão despertada pelo documento de Aparecida que completa um ano de elaboração cujo projeto arquidiocesano, Belém em Missão, já está em curso.
O tema “vida” foi amplamente debatido em todas as nossas reuniões, celebrações e também, de maneira muito especial, pela mídia. Acredito que todos temos muitas informações sobre isso e sabemos como a Igreja Católica foi acusada e depreciada por defender a vida desde a sua concepção até à morte natural.
No final da semana passada o Supremo Tribunal Federal julgou constitucional o artigo 5º e seus parágrafos da Lei de Biossegurança n. 11.105/2005, que permite aos pesquisadores usarem, em pesquisas científicas e terapêuticas, os embriões criados a partir da fecundação “in vitro” e que estão congelado há mais de três anos sem clínicas de fertilização.
Essa decisão demonstrou pelo resultado da mesma a divisão de opiniões dos ministros e nos recorda que a questão não é uma opinião religiosa e sim a “promoção e defesa da vida humana, desde a fecundação, em qualquer circunstância em que esta se encontra”. “Sendo uma vida humana, segundo asseguram a embriologia e a biologia, o embrião tem direito à proteção do Estado. A circunstância de estar “in vitro” ou no útero materno não diminui e nem aumenta esse direito” (CNBB).
Diante do fato temos algumas considerações: a primeira é que as pesquisas com células tronco embrionárias já estavam permitidas pela Lei de Biossegurança. O Tribunal julgou se essa autorização era inconstitucional por não reconhecer ali vidas humanas. Segundo: imagina-se que após alguns anos de pesquisa pudessem apresentar alguns experimentos exitosos, mas é interessante ver que, com as células tronco adultas já existem muitos experimentos positivos (conta-se com mais de 20 mil pessoas) enquanto que com as células tronco embrionárias até agora não apresentou nenhum êxito. Além de ser vida humana sendo ceifada os resultados são nulos!
Todos sabemos que a autorização não fica apenas neste primeiro passo – já o STF se prepara, segundo as notícias veiculadas neste final de semana, para outros julgamentos nessa área e que até agora não tinham “amadurecido” para votar. Os passos estarão sendo dados. O que é lamentável, além dessa decisão, são as conseqüências culturais para a sociedade.
Hoje reclamamos da violência, da falta de valores na sociedade, da divisão da família e atribuímos na maioria das vezes a midia que traz às nossas casas esses tipos de comportamento. De um lado é realmente verdade, mas esquecemos de ver que o que a mídia retrata (e às vezes aumenta) é um comportamento que vem por esses tipos de discussão e de leis que vão sendo aprovadas e pelas filosofias e mentalidade consumista e hedonista que pouco a pouco modificam nossa cultura para esse tipo de vida que reclamamos. A beleza da partilha, do perdão, do respeito à vida, da fraternidade, da família são valores cristãos que, graças a Deus, em muitos ambientes ainda persistem.
A Igreja não é contra as pesquisas, não é contra as ciências, mas hoje chegamos a um ponto em que a pergunta não é mais de podemos ou não, mas sim se devemos ou não.
Hoje sofremos com as decisões de ontem, pelas sementes que foram plantadas nos corações da pessoas, imaginemos então as conseqüências no amanhã.
A Igreja já foi perseguida em todos os regimes políticos e em todos os tipos de ideologias que governam as nações, convive com todos os tipos de leis e situações. Também iremos aprender a defender a vida num país que optou abrir uma porta “permitindo que vidas humanas em estado embrionário sejam ceifadas” e continuaremos o nosso trabalho “em favor da via, desde a concepção até o seu declínio natural” (CNBB).
Isso nos faz retomar o lema do nosso círio deste ano e continuarmos a viver com os valores cristãos. A nossa região tem dado exemplos belíssimos de um povo que ama e defende a vida. Que Maria, N. Sra. de Nazaré, nos ajude a continuar no caminho da vida cristã e de suas conseqüências acolhendo a sua voz que nos convida “fazei tudo o que Ele disser” e aí nós veremos com muita alegria a água mudada em vinho, ou seja,o mundo novo que queremos, com a graça de Deus, ir construindo, pois os valores cristãos e humanos verdadeiros estão próximos.
Maria tão perto de nós e tão perto de Deus leve ao Senhor o nosso clamor “eles não tem mais vinho”.