Dom José Alberto Moura
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
Nossa preocupação com a sobrevivência é natural. Às vezes, para alguns, exagerada. Vão acumulando, acumulando. Há exagero, injustiça, falta de solidariedade, verdadeiro egoísmo! Há também grande parcela que passa grandes e permanentes necessidades. Faltam trabalho, moradia e até o mínimo para uma vida digna. A Bíblia nos coloca o desafio da confiança na Providência Divina, querendo nos ensinar, mais do que tudo, o bom uso da inteligência e da solidariedade para provermos o necessário para cada um. O planeta tem recursos, oferecidos pelo Criador. Mas devemos saber usá-los de modo adequado. Poderíamos evitar catástrofes, fome, insalubridade, miséria e muito tipo de enfermidades. Seria possível e deveríamos oferecer oportunidade de educação, saúde e vida realmente humana para todos, mesmo sem limitarmos artificialmente a natalidade. O uso racional da natureza seria fonte e meio de sobrevivência adequada para a humanidade.
Deus é cuidadoso para com as obras criadas: “Olhai os pássaros dos céus: eles não semeiam, não colhem nem ajuntam em armazéns. No entanto, vosso Pai que está nos céus os alimenta…” (Mateus 6,26). Mas confere a nós humanos, parte do cuidado com nossos pares e a terra. Até hoje não aprendemos a cuidar. Até pensamos: “O Senhor abandonou-me… Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno…? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti” (Isaías 49,14.15). À vezes nos esquecemos de fazer nossa parte nesse cuidado. A solidariedade é indispensável para caminharmos e solucionarmos os desafios da vida digna para todos. Há quem usa muito do tesouro do cofre público para benesses pessoais, não tendo a altivez moral de usar com justiça o que é bem de todos. Os cargos de serviço ao bem público não podem ser usados para o desenfreio ou a voracidade de se querer tudo para si em detrimento da confiança depositada pelo povo em sua posição de servidor do mesmo! U’a manifestação de cuidado deve haver por parte de todos em se unir para a promoção de políticos e de políticas públicas que realmente sirvam as pessoas, a partir da mais deixadas de lado. A legislação para a causa própria no aumento dos próprios salários é imoralidade pública.
Com a busca de valores maiores usufruídos do amor de Deus, todos nos tornamos mais solidários e solucionaremos melhor os problemas com a vida digna para cada um: “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mateus 6, 33). De fato, quando a pessoa tem a formação do caráter bem sedimentado com valores éticos e cristãos, ela se torna criatura de formação para a convivência na justiça e solidariedade. Caso contrário, poderemos ter pessoas até de qualificação pós universitária com deformação de caráter, usando seus conhecimentos para só pensar em si e desrespeitar o semelhante e o que lhe pertence. O trabalho pelo comum é realizado por quem tem ideal de vida baseado no autêntico amor fruído de Deus. Ele é feito para ajudar o cuidado com o bem do semelhante.
