Dom Leomar Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Assim como no passado o medo de uma guerra nuclear abalava o mundo, hoje enfrentamos uma ameaça global: a destruição do próprio planeta. Por muitos anos, a humanidade explorou a natureza sem pensar no amanhã, achando que os recursos eram infinitos. Mas agora a conta chegou: desmatamento, mudanças climáticas, escassez de água potável, poluição, desigualdade social e tantas outras consequências do nosso estilo de vida consumista.
A verdade é que não podemos mais ignorar o problema. Não adianta viver num mundo virtual e esquecer que a natureza está sofrendo. Precisamos mudar nossa forma de enxergar o mundo e assumir a responsabilidade de cuidar da nossa casa comum. A crise ecológica nos afeta a todos _ independentemente de país, classe social ou religião. E, nesse cenário, a fé pode ser um farol, apontado caminhos para uma vida mais equilibrada e sustentável.
Em diversas tradições religiosas, a natureza é vista como parte da criação divina _ algo sagrado, digo de respeito e cuidado. No entanto, a sociedade moderna foi deixando essa visão de lado, tratando a Terra como um simples conjunto de recursos a serem explorados. Essa ruptura com o meio ambiente revela, na verdade, uma crise interior do ser humano. A destruição das florestas reflete, em muitos casos, a destruição espiritual dentro de nós. Quando estamos esgotados, ansiosos e sem propósito, isso também se manifesta na forma como tratamos o planeta.
Diante desse cenário, a solução não é apenas técnica ou científica. Precisamos de uma mudança profunda de mentalidade _ uma verdadeira conversão ecológica. Isso significa repensar nossos hábitos, reduzir o desperdício, evitar o consumo excessivo e buscar formas mais sustentáveis de viver. Não podemos continuar explorando a natureza como se ela estivesse a nosso serviço, sem consequências. Se mantivermos esse ritmo, não haverá planeta para as próximas gerações.
Muitas pessoas ainda acham que fé e ecologia não têm relação, mas isso não é verdade. Cuidar da criação faz parte do nosso compromisso com Deus. A Bíblia ensina que fomos colocados no mundo para cultivar e guardar a Terra _ não para destruí-la.
Outro desafio está na visão de que as mudanças climáticas e os desastres naturais como “sinais do fim dos tempos”, usados como justificativa para a inércia. Alguns acreditam que tudo faz parte de um plano divino e que nada pode ser feito. Mas essa visão não combina com a fé cristã, que sempre ensinou a esperança e a ação. Deus não nos abandonou _ e nós também não podemos abandonar o planeta. Somos chamados à responsabilidade e à ação concreta em favor da vida.
A solução para a crise ambiental não está em discursos alarmistas nem em esperar por milagres. Precisamos de atitudes reais: reduzir o consumo desnecessário, economizar água, evitar o desperdício, reciclar e, acima de tudo, mudar nossa forma de enxergar a vida na Terra. Não se trata apenas de salvar o meio ambiente, mas de construir um mundo onde as pessoas possam viver com dignidade.
A fé cristã nos ensina a confiar em Deus, mas essa confiança não nos isenta da responsabilidade de agir. O futuro do planeta está em nossas mãos. Se cada um fizer a sua parte, é possível reverter essa situação e deixar um mundo melhor para as próximas gerações. Afinal, cuidar da Terra é também um ato de amor e gratidão ao Criador.
