Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Dentro do período da Oitava de Natal, que são os oito dias de celebração do Natal, celebramos vários santos da Igreja Católica. No dia 26 de dezembro, celebramos Santo Estevão, o primeiro mártir da Igreja (neste ano como foi domingo, foi celebrada a solenidade da Sagrada Família. No dia 27 celebramos, São João Evangelista e, no dia 28 de dezembro, os Santos Inocentes.
São João Evangelista foi um dos doze apóstolos de Jesus, chamado o discípulo amado, um dos mais jovens entre os doze. Foi a João Evangelista que Jesus, na agonia da Cruz, entregou a sua mãe para que João cuidasse. João e Maria estavam de joelhos aos pés da cruz e Jesus ao entregar sua Mãe a João, entrega a todos nós. João acolhe Maria consigo e cuida dela, até Ela ser levada ao céu.
Diferentemente dos outros apóstolos, João morreu de velhice, uma morte natural, quando tinha 94 anos, porém depois de muitos sofrimentos. João, além de ser o autor do quarto evangelho, escreveu também três cartas. Nesses escritos, João revela sobretudo o amor de Deus por nós, manifestado em Jesus Cristo. Um dos escritos mais famosos de João, além de seu evangelho, é o livro do Apocalipse de São João.
Não podemos confundir João Evangelista com João Batista, pois são pessoas diferentes. João Batista é o primo de Jesus, o precursor, que preparou o caminho para a chegada de Jesus. A festa de São João Batista comemora-se duas vezes, dia 24 de junho, o nascimento, e dia 29 de agosto, o martírio. E João Evangelista escolhido como apóstolo de Jesus celebra-se a sua festa litúrgica neste dia 27 de dezembro. Os dois têm uma grande importância na história da salvação, mas aparecem em momentos diferentes.
João, o Evangelista consta que seria solteiro e vivia com os seus pais em Betsaida onde teria nascido e ocupou um lugar de primeiro plano entre os apóstolos. Era pescador de profissão e consertava as redes de pesca quando foi chamado por Jesus. Trabalhava junto com seu irmão Tiago (Maior) e em provável sociedade com André e Pedro, todos apóstolos.
O nome de João significa “Deus misericordioso”. Trata-se de uma profecia que foi se cumprindo na vida do mais jovem dos apóstolos. João, sobretudo, anunciava a face desse Deus misericordioso, que nos revelou o seu filho Jesus Cristo a fim de nos salvar e resgatar aqueles que andavam nas trevas do pecado.
João esteve presente em momentos marcantes da vida de Jesus: no episódio da transfiguração no monte Tabor, Jesus chama Pedro, Tiago e João; na Santa Ceia, quem reclina a cabeça no peito de Jesus é João e no momento da agonia de Jesus na Cruz, foi o único apóstolo que esteve presente até os últimos momentos de Jesus, ao lado da Virgem Maria, enquanto os outros fugiram com medo. João é sempre o homem da elevação espiritual, mas forte e corajoso, tanto que Jesus chamou a ele e a seu irmão Tiago de Boanerges, que significa “filhos do trovão”.
O Apocalipse e as três cartas de João testemunham igualmente que o autor vivia na Ásia e lá gozava de extraordinária autoridade. E não era para menos, em nenhuma outra parte do mundo, nem sequer em Roma, havia apóstolos que sobrevivessem. E é de imaginar a veneração que tinham os cristãos dos fins do século I por aquele ancião de mais de 90 anos, que tinha ouvido falar o Senhor Jesus, e o tinha visto com os próprios olhos, e lhe tinha tocado com as próprias mãos, e o tinha contemplado na sua vida terrena e depois de ressuscitado, e presenciara a sua ascensão aos céus. Por isso, o valor dos seus ensinamentos e o peso das suas afirmações não podiam deixar de ser excepcionais e mesmo únicos.
São João, já no auge de sua velhice, se deparou com uma perseguição por parte do Império Romano à Igreja de Cristo e aos cristãos. Alguns desses fatos até foram relatados no livro do Apocalipse. Além destas perseguições, ainda havia muitas heresias, que desencadearam o movimento religioso gnóstico, nascido e propagado fora e dentro da Igreja, procurando corroer a essência mesma do Cristianismo.
Completada a sua jornada aqui na terra, o santo evangelista morreu quase centenário, sem sabermos uma data exata. Foi no fim do primeiro século ou no início do segundo século, no tempo do imperador Trajano (98 – 117) d.C.
Celebremos com alegria a festa de São João Evangelista, neste dia 27, e peçamos a Deus que, por intercessão desse grande santo da Igreja, possamos defender até o fim nossa Igreja Católica e da mesma forma defender a nossa fé. Aprendamos do apóstolo a nutrir o amor a Jesus e a Virgem Maria e que eles nos guiem no caminho do bem.
Que o Espírito Santo que sempre faz novas todas as coisas, nos faça seguir os passos de Jesus e ouvir a sua voz, nos tornando fiéis a sua missão. Amém.
São João Evangelista, rogai por nós.