O discreto encanto das retropias

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo  de Campos (RJ)

Jean Delumeau em seu livro: “O que sobrou do paraíso?”, descreve como a visão da Jerusalém Celeste foi sendo construída por teólogos, místicos e visionários, e como ela foi cedendo à construtos mais seculares expressas em esperanças e sonhos coletivos denominadas ou conhecidas por utopias. No fim do século XX foram projetadas as distopias (utopias negativas de infelicidade):

Admirável mundo novo e 1984. Já no terceiro milênio encontramos uma nova categoria: as “retropias” religiosas e políticas. Chamam-se assim porque, como no romantismo. a chave da felicidade está no passado, para as visões religiosas, na alta idade média, ou seja, nos mosteiros amuralhados como fortalezas contra o mundo, como espaços de defesa do sagrado e da pureza. Assim, muitos jovens olham para trás e buscam uma religiosidade ascética e penitente fugindo, assim, da secularidade e dos anti-valores da modernidade, torcendo para que aconteça logo o fim do mundo e o juízo, o Dia da Ira. As retropias políticas são menos sagradas e generosas, voltam aos anos 30 do século XX, e suspiram por líderes salvadores que sob o desígnio de Deus ou forças cósmicas, eliminem a todos aqueles que se opõem à uma ordem integrista, autoritária e fascista que ponha fim aos desmandos do crime de sonhar uma sociedade alternativa.

As retropias renunciam à esperança e às surpresas de Deus que faz surgir e irromper o novo do Reino, que vai-se concretizando em mediações humanas de justiça, paz, amor compassivo e igualdade, incluindo a todas as pessoas e criaturas, num Novo Céu e uma Nova Terra. Nosso Deus é um Deus vivo, amoroso e misericordioso, advogado e Pai dos pequenos e dos pobres, com Ele haverá sempre futuro para a humanidade, pois a última palavra da história, o que define o seu sentido e rumo será sempre o amor, que gera fraternidade e paz, nunca esquecendo que para isso nasceu Jesus o Salvador. Deus seja louvado!

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