João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
Em meio à beleza dos mistérios da vida se encontra o dom da paternidade, vivido pelos homens que geram, acolhem e educam seus filhos. Esse maravilhoso processo de geração da vida que, naturalmente, envolve o casal – homem e mulher – é fundamental para perpetuar a humanidade. Por isso mesmo, a procriação humana não pode ser reduzida a questões de política pública quando, na verdade, se trata do nascimento de uma nova pessoa, chamada a conviver com inúmeras outras.
A relação é determinante na paternidade. Um homem somente se torna pai quando do nascimento de seu filho. A existência do filho e, portanto, de cada um de nós, está diretamente associada à existência do pai. Só há pai se há filho. E se há filho é porque há pai. Isso que é tão óbvio, às vezes escapa à compreensão de pessoas que não se dão conta da beleza da relação inscrita nos nomes do pai e do filho. Quando um pai renega o filho, não o reconhecendo, ele instaura um vazio de relação cujo resultado não será bom, sobretudo para o filho. Este precisará daquele para reconhecer-se na sua identidade pessoal e registrar, não apenas na certidão de nascimento, mas na própria personalidade, que entrou na história marcado pelo nome do pai. Isso significará, entre tantos sentidos, que a vida é um dom recebido, é pura gratuidade. Significará, ainda, que existe uma voz masculina única que me chamará de “meu filho” e me tomará em seus braços e me dará uma das mais fortes experiências da vida, chamar aquele homem de “meu pai”. Ele haverá de dizer “venha” ou “vá” e, também, “não venha”, “não vá”. O pai, no exercício de sua paternidade, inscreverá no mais profundo do filho que a vida é maravilhosa, e que ela tem preciosos limites.
Ter um filho e tornar-se pai é vivência singular de participação na obra da criação. Aqueles homens que por razões diversas não podem gerar e escolhem adotar algum filho abraçam a paternidade de modo tão nobre quanto os que geram. E há, inclusive, aqueles que alargam o conjunto dos filhos com a adoção de outros, numa bela expressão de generosidade no cuidado da vida. Que ninguém “fique sem pai”.
Algumas figuras religiosas recebem a designação de pais. O padre, por exemplo, tem seu apelativo tomado do vocábulo latino “pater”, ou seja, pai. Na língua italiana se usa a mesma palavra para designar o progenitor e o sacerdote religioso: “padre”. Na teologia católica, o bispo é designado como pai, e em alguns ritos é assim chamado, inclusive. Nesses quadros, o que se registra é que a função religiosa tem relação com a vida espiritual. Um sacerdote, padre ou bispo, há que apropriar-se da missão de cuidar como um pai da vida espiritual dos membros de sua igreja. Em termos vocacionais, já se disse que um jovem que não tenha condições de abraçar o matrimônio e gerar filhos demonstra pouca habilidade para o ministério de padre. Abrir mão do matrimônio e da paternidade é renunciar a uma maravilhosa oportunidade, visando oferecer a própria vida e todas as suas energias para gerar filhos espirituais. Isso requer coragem e decisão, renúncia e vigor, alegria e disponibilidade. Mas esses traços são, também, requeridos para uma paternidade responsável. Enfim, pais e padres, haveremos de cuidar dos filhos e ser capazes de apontar para o único Pai que é o Senhor da vida e da história.