O estilo de liderança de Jesus Cristo

Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

 

 

O ESTILO DE LIDERANÇA DE JESUS CRISTO (Parte 19) 

Continuemos nossa reflexão sobre o estilo da liderança de Jesus. Na próxima edição concluiremos esta série de textos com a parábola do Bom Pastor. Jesus Cristo é o líder por excelência. Por isso, os líderes na Igreja, em todos os níveis, devem continuamente se confrontar com seu estilo de exercício da autoridade. Autoridade é serviço, dedicação aos outros!   

O líder Jesus sabia com profundidade e firmeza dar respostas às contestações que lhe faziam sem deixar-se abalar psicologicamente. Mas nem sempre aceitavam o que ele dizia. Jesus foi sempre questionado e muitas especulações maldosas faziam sobre ele. Dirigiam-lhe muitas perguntas, tanto sobre sua identidade (quem ele era) quanto sobre a autenticidade da sua ação: «És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?» (Lc 7,19); «Nós e os fariseus fazemos jejum. Por que os teus discípulos não fazem jejum?» (Mt 9,14); «O mestre de vocês não paga o imposto do Templo?» (Mt 17,24); «Com que autoridade fazes tais coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?» (Mc 11,28); “É lícito ou não é, pagar imposto a César?» (Mt 22,17); «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?» (Mt 22,36)       

O bom líder deve estar preparado para dar respostas às indagações dos outros, dos seus liderados. Mas nem sempre quem pergunta, tem boas intenções. Nem sempre é porque não tem respostas, mas sim para pôr o líder à prova! Por isso ele deve estar, quanto possível, seguro da sua missão e suas atribuições específicas. Por outro lado, não deve, a todo custo, buscar dar respostas simplesmente para contentar seus interlocutores. Também Jesus soube silenciar. 

O líder Jesus estava sempre atento à comunhão dos seus liderados consigo e deles entre eles. Por isso denunciava as divisões e combatia qualquer forma de pensamento e atitudes mesquinhas entre seus discípulos.  “Quem não está comigo, está contra mim” (Lc 11,23). «Todo reino dividido em grupos que lutam entre si, será destruído; e uma casa cairá sobre outra” (Mt 11,17).  

Nenhum serviço de liderança chegará a bom êxito se os liderados estiverem continuamente em conflitos, disputas, divididos; uma das mais nobres atribuições de todo líder é aquele de ser centro de convergência e unidade; o bom líder tem a contínua missão de promover a comunhão tanto dos liderados consigo (por uma questão estratégica e de governabilidade), como também entre os liderados entre si. Não estimular o senso de comunhão é falta de sabedoria e quem se manifesta em atitude de “oposição” não deveria assumir nenhuma responsabilidade delegada, porque vai dividir, dispersar, atrapalhar, boicotar processos! 

O líder Jesus estimulava continuamente seus liderados à mudança de mentalidade, à superação de desafios… por isso dizia-lhes com frequência: “não tenha medo”! “Sejam perfeitos como o Pai é perfeito, que faz chover sobre bons e maus” (Mt 5,43-48); Jesus começou a pregar, dizendo: «Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo.» (Mt 4,17). 

O bom líder não deve conservar seus liderados com os encontrou. Faz parte da natureza da liderança o estímulo ao desenvolvimento, ao crescimento das pessoas. O bom líder provoca processos de crescimento, inquieta, aponta para novos horizontes. Nem sempre os liderados sentem essa necessidade, mas o líder deve ter essa visão. Proporcionamos o crescimento dos outros quando acontece um processo de mudança de mentalidade, superando toda e qualquer atitude infantil, dependente, cega, acomodada, passiva. Quando um líder está rodeado de colaboradores passivos e não se preocupa com o crescimento deles, é sinal de que, ele não tem visão do sentido da sadia liderança. 

O líder Jesus dedicava-se com afinco à formação dos seus liderados através de discursos, encontros pessoais, reflexão grupal, momentos de oração (retiro), experiência de trabalho, momentos celebrativos, crítica sobre os fatos do cotidiano…  Ele prevenia os discípulos: “Atenção! Vão perseguir vocês (Mt 10,17-22) e vão pensar que estão fazendo uma obra agradável a Deus!” (Jo 16,2). 

A mudança de mentalidade, como sinal de crescimento, é consequência de um lento e gradual processo de formação. Todo bom líder é promotor da formação dos seus liderados. Investir na formação é uma exigência e condição para o processo de transformação das pessoas. A formação se dá através de um conjunto de atividades, atitudes do líder e dos próprios liderados, portanto, não se trata de um curso em si. É importante aproveitar das circunstâncias e fatos convidando os liderados à reflexão, tirar lições, dar significado aos fatos, a estudar causas de problemas, discernir soluções mais adequadas, ousar passos novos, buscar o inédito… Jesus sempre fazia assim: desinstalava as pessoas da sua zona de conforto. Liderar é também promoção da formação que implica motivar as pessoas para que não fiquem estagnados. 

O líder Jesus tinha exigências; acompanhava de perto seus liderados: pedia de seus discípulos a capacidade de renúncia, desapego dos bens materiais e dos parentes; disposição para abraçar a cruz e seguir seus passos; e quando achavam que estava sendo duro demais, dizia-lhes que, se não quisessem podiam abandoná-lo, não eram obrigados a segui-lo: “muitos discípulos de Jesus disseram: «Esse modo de falar é duro demais. Quem pode continuar ouvindo isso?»  Jesus sabia que seus discípulos estavam criticando o que ele tinha dito…. A partir desse momento, muitos discípulos voltaram atrás, e não andavam mais com Jesus. Então Jesus disse aos Doze: «Vocês também querem ir embora?»” (Jo 6,61-62.66-67).  

O líder que mascara a realidade, que encobre problemas e nega exigências normais, é um enganador! Isso acontece quando o líder é populista, ou seja, o “queridão”, o ídolo dos liderados… Em vez manifestar as exigências normais de um processo, dá-lhes presentes, beijos, abraços e evita tudo o que é “antipático”. Assim agiam os falsos profetas… essa é uma estratégia de dominação! Uma das mais graves formas de aliciamento de um líder em relação aos seus liderados é aquela afetiva. Quem prende os outros a si mesmo, não lidera, não promove, mas aprisiona os outros na infantilidade e na dependência. Quando a liderança não é libertadora, é opressora.  

O líder Jesus é sempre portador muita clareza, firmeza, assertividade. Não negocia aquilo que é essencial: coloca-se a si mesmo no centro do relacionamento entre o ser humano e Deus: “Ninguém vem ao Pai senão por mim!” (Mt 11,27; Jo 14,6); “Eu sou o caminho, a verdade e a vida!” (Jo 14,6). “Diga apenas ‘sim’, quando é ‘sim’; e ‘não’, quando é ‘não’. O que você disser além disso, vem do Maligno.» (Mt 5,37); “se vocês não perdoarem aos homens, o Pai de vocês também não perdoará os males que vocês tiverem feito.» (Lc 6,15); “sem mim vocês nada poderão fazer” (Jo 15,5). 

Onde não há clareza no serviço de liderança, há confusão, má interpretação, desvios. Quanto mais os critérios, diretrizes, objetivos, metas, tarefas, processos e desafios a serem enfrentados estiverem claros para todos, melhor será! Isso deve fazer parte de um projeto. Não é sinal de maturidade de um líder e seriedade de liderança, quando se caminha a esmo, sem projeto, sem diretrizes, simplesmente seguindo as circunstâncias. O líder deve ter foco, meta, rumo! Ser claro!  

PARA A REFLEXÃO PESSOAL: 

  1. Qual dessas atitude de Jesus lhe chamou à atenção? 
  2. O que significa afirmar que o bom líder estimula a conversão dos liderados? 
  3. Por que é importante a postura de clareza e assertividade do líder? 

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