Estamos já vivendo a Semana Santa. No quinto domingo da quaresma foi proclamado na liturgia  em nossas comunidades o trecho do evangelho de João no qual Jesus fala de sua paixão e morte, revela seu sentido e nos convida a percorrer com Ele o mesmo caminho. O contexto é a festa da páscoa que atraia para Jerusalém, não apenas judeus, mas também prosélitos de outras nações. Assim começa a narrativa: “Havia alguns gregos entre os que subiram a Jerusalém para adorar durante a festa”(12,20).

A presença de gregos nos faz pensar no mundo das idéias, nas discussões filosóficas tão em voga na capital da Grécia. O VER grego, a teoria, era o ver filosófico, uma contemplação intelectual, pela qual se tentava desvendar os enigmas do cosmos e o mistério da existência. Havia gregos que, enamorados da religião judaica, buscavam uma verdade maior, queriam um VER que respondesse plenamente à sua sede de verdade. Estando em Jerusalém, ouviram falar de Jesus e quiseram vê-lo. “Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e disseram: ‘senhor, queremos ver Jesus’. Filipe conversou com André, e os dois foram falar com Jesus”(12,21-22).

O evangelista continua: “Jesus respondeu-lhes:…” A quem terá respondido Jesus? A Filipe e André ou aos gregos? A todos quantos o buscam de coração. Jesus diz quem Ele é e, ao mesmo tempo, indica o caminho para vê-lo, ou seja, para experimentar seu mistério. Jesus é o grão de trigo que cai na terra e morre: “se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele fica só. Mas, se morre, produz muito fruto”(12,24). Jesus tem diante dos olhos o desfecho de sua existência: a morte e morte de Cruz: “chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado”(12,23). Aquela era a ultima páscoa da qual Jesus participava, na qual se daria seu êxodo definitivo, sua entrada na glória pela entrega da vida. Hora dolorosa, sem dúvida, mas hora em que haveria de consumar o sentido de sua existência. A aproximação dessa hora gera angústia no coração de Cristo: “sinto agora grande angústia. E que direi? ‘Pai, livra-me dessa hora’? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica teu nome”. No capítulo dezessete Jesus dirá ao Pai: “Pai, chegou a hora. Glorifica teu Filho, para que teu Filho te glorifique…”(17,1).

Por que é pela morte que há de se manifestar sua glória e a glória do Pai? Deus é amor. E maior amor não há que doar a vida. Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho Único (Cf. Jo 3,16-17). O Filho, Jesus, revela o Pai oferecendo sua vida por nós. A morte de Jesus é, na história, o evento revelador das profundezas abissais do mistério de Deus. A alegria de Jesus, sua glória, é poder revelar o amor do Pai, amor que constitui sua experiência e identidade profundas. Revelar o Pai, plantar seu amor no coração do mundo, é a alegria e a realização suprema de Jesus. Tudo o que quer Jesus é que tenhamos em nós “a plenitude de sua alegria”(17,13). A glória de Jesus, sua alegria, é ser amado pelo Pai. Esta glória Ele veio trazer para nós: “Eu lhes dei a glória que Tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um: eu neles, e tu em mim, para que sejam perfeitamente unidos, e o mundo conheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim”(17,23). ). E ainda: “eu lhes fiz conhecer teu nome, e o farei conhecer ainda, para que o amor com que me amaste esteja neles e eu mesmo esteja neles”(Jo 17,26).Este amor é o próprio Espírito Santo pelo qual a Pai está no Filho e o Filho está no Pai. Entrar nesse mistério é conhecer – VER – Jesus.

Para isso é necessário abrir as portas do próprio ser e deixar que ele entre em sua plena verdade. Ver Jesus acontece quando se começa a viver o mistério do grão de trigo que, caído na terra, aceita morrer para se multiplicar. Herodes também quis ver Jesus e “ficou muito contente ao ver Jesus, pois, há muito tempo desejava vê-lo. Já ouvira falar a seu respeito e esperava vê-lo fazer algum  milagre”. E de “muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe respondia”. Herodes, então, o “tratou com desprezo, zombou dele, vestiu-o com uma roupa vistosa e mandou-o de volta a Pilatos”(Lc 23,8-11). Herodes, entretanto, jamais viu Jesus. Faltaram-lhe os olhos da humildade, chão da fé. Se você, prezado(a) leitor(a) quer ver Jesus, ouça-o: “quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem não faz conta de sua vida neste mundo, há de guardá-la para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me.e onde eu estiver, estará também aquele que me serve. Se alguém me serve meu Pai o honrará”(Jo 12,25-27). Para ver Jesus é preciso fazer com Ele o caminho do grão de trigo.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

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