Cardeal Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
O Natal não se reduz a um único dia de festa, nem às celebrações litúrgicas do dia 25 de dezembro, por mais importantes que sejam e devam ser. O Natal de Jesus continua a ser celebrado com louvor e alegria, tendo como seu desdobramento a Epifania do Senhor, conhecida como festa dos Santos Reis ou dos Reis Magos, dia 06 de janeiro, com a qual podemos dizer que o cenário do presépio é completado. Na humilde manjedoura de Belém, Deus revela o seu amor que a todos quer abraçar com sua ternura. Os pastores das redondezas expressam o amor divino manifestado aos que estavam próximos, membros do povo da Antiga Aliança. Os sábios que vieram do longínquo Oriente a Belém representam gente de toda a terra, mostrando que o amor e a salvação são oferecidos a todos. Deus não exclui ninguém do seu amor. Ele nos ensina a amar a todos, especialmente, as pessoas que ainda não amamos bastante. Por isso, Natal é para ser celebrado e vivido. Há uma tendência, hoje, em antecipar o clima de Natal em mais de um mês, especialmente com os tradicionais enfeites natalinos, as compras e as confraternizações. Entretanto, para muitos, não ocorre o devido prolongamento da celebração natalina, após 25 de dezembro, como se o Natal fosse apenas um dia.
A compreensão e a vivência do Natal têm sofrido mudanças, embora continue a ser uma das festas mais difundidas no mundo. O clima natalino favorece a vivência da fraternidade e da paz, permite uma proximidade maior entre as pessoas, nas famílias e nos ambientes de trabalho, dentre outros. Contudo, a celebração do Natal, enquanto nascimento de Jesus e não somente como uma simples festa fraterna, permite intensificar e prolongar a vivência do amor fraterno, do respeito, da alegria e da paz. As luzes continuam acesas, com os belos enfeites natalinos, após o dia de Natal convidando-nos a continuar a celebrar e a vivenciar o nascimento de Jesus. O presépio continua a ser contemplado, recordando-nos que brota uma vida nova da manjedoura de Belém, que deve se estender ao longo do novo ano. Os presentes podem ser sinais bonitos de amor e de gratidão, desde que as pessoas não se esqueçam dos presentes mais belos e duradouros, que não são adquiridos em lojas, como o amor, o perdão, a esperança e a paz. Não custa oferecer tais presentes neste tempo de Natal e em cada dia do novo ano.
É preciso recriar hoje o cenário de Belém, dele participando. Nós somos convidados a caminhar ao encontro do Menino Deus nascido em Belém, refazendo o caminho dos pastores e dos magos. Diante do caminho para Belém, é preciso repensar os caminhos que temos percorrido, dispondo-nos a caminhar como irmãos. A celebração do nascimento de Jesus é ocasião privilegiada para a prática da partilha e da solidariedade, especialmente neste tempo de pandemia, para que todos possam ter um feliz Ano Novo.