As esperanças humanas são legítimas e merecem ser cultivadas. Mas quando se transformam em ideologias, eclipsam a esperança cristã, e enchem as mentes de falsos objetivos. Basta olhar a ideologia comunista, que advogou por décadas o “paraíso terrestre” que, enfim ficou mais uma vez procrastinado. As ideologias toleram a esperança cristã, mas só em âmbito privado. Mas ao contrário, nós queremos devolver a esta virtude cristã, que nasce da fé, toda a sua profundidade. O nosso querido Papa Bento XVI chegou a dizer, na encíclica “Spe Salvi”, que sem Deus não há esperança. “Outrora éreis sem esperança, e sem Deus” (Ef 2, 12).
O homem moderno dá a impressão de querer reclamar para si a tarefa de redimir-se a si mesmo. É verdade que a ciência moderna aumentou, de maneira inaudita, o domínio humano sobre a natureza. Isso capacitou a humanidade a instaurar a possibilidade de uma nova ordem social , justa e harmoniosa. A ciência, a técnica, a ação política e o desejo do progresso ilimitado levaram o “homo sapiens” a conquistar um maior bem-estar. Até aqui está tudo certo. Pois isso foi incumbência recebida do Criador: “Multiplicai-vos e dominai a terra” (Gen 1, 28). O problema reside no fato de se buscar apenas um progresso material. O progresso virou um dogma, que procurou substituir a esperança cristã, que tem como fulcro a redenção que vem do alto. Para dirimir equívocos, seja reafirmada a capacidade (e o dever) que o homem tem de aperfeiçoar o mercado, a democracia e o progresso. Mas estejamos atentos para a ambivalência. Existem as esperanças, isto é, o progresso imanente, o domínio das enfermidades, a superação dos males, a comodidade da vida, o combate à ignorância. E existe a esperança: o progresso moral, a paz, a liberdade, o sentido último da vida, a redenção após a morte, a libertação do sofrimento incompreensível. As esperanças estão nas mãos do homem, onde Deus nos pode ajudar. A esperança é saciada, tendo como referência o Ser por excelência. É o anelo fundamental. É a salvação, que dá sentido a uma vida inteira. Ao começarmos a nova década enchamos o coração de esperanças. Mas deixemos o espaço privilegiado para a esperança.
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