O ano eclesiástico chega ao fim e celebra Cristo Rei do Universo. Domingo próximo começa um novo ano. Cada ano é como uma órbita completada em torno do
sol. Para o homem de fé em Cristo, o Filho de Deus veio ao mundo para demonstrar à humanidade como é o projeto de Deus a ser alcançado pela liberdade do homem: a felicidade eterna.
O ano da Igreja é diverso do astronômico ou civil e do ano escolástico, para contagem do tempo. È a história da salvação revivida anualmente. Tem como pontos culminantes as festas de Natal e Páscoa, e termina com a festa de hoje. A solenidade de Cristo Rei do universo nos diz respeito, como seus cidadãos de pleno direito.
O profeta Daniel 7,13-14, apresenta a visão de alguém semelhante a um Filho de homem, isto é Cristo Jesus, Deus e homem. Jesus se apresentou a Deus que lhe deu poder, glória e reino, e todos os povos o servem. Aí está a imagem de Jesus ressuscitado, que voltou ao Pai e por Ele foi reconhecido rei. Em outro texto profético, o Apocalipse, Jesus é chamado “Príncipe dos reis da terra”: príncipe, isto é o principal, o mais importante. E ele mesmo se apresenta: Eu sou o Alfa e o Omega, a primeira e a última letra do alfabeto grego. Esta nova imagem diz que Jesus é o princípio e o fim, o fim para o qual cada existência é orientada e encaminhada.
Durante sua vida terrena, Jesus mesmo proclamou-se rei. Diante do Procurador romano da Judéia, Pôncio Pilatos, à pergunta “Tu és rei?” como se fosse uma culpa, os chefes hebreus lhe tinham entregue Jesus afirmando que ele tinha intenção de proclamar-se rei. E o procurador romano tinha, entre seus deveres, tutelar a soberania do imperador romano Tibério. Devia pois combater a auto proclamação de rei dos judeus, considerá-lo indivíduo perigoso, condená-lo, eliminá-lo. Jesus ao invés de defender-se, aceitou o jogo: “Tu o dizes, eu sou rei”.
Que raça de rei era Jesus? Se olharmos os poderosos deste mundo, com quanta segurança e solenidade se movem, falam, decidem o destino dos homens e do mundo. Tudo depende deles. E deles se aproveitam também. Um famoso protagonista da Revolução Francesa, Louis Saint-Just, terminado na guilhotina, admitia: “Não se pode reinar e ser inocente”.
Jesus, porém, tinha idéias bem diferentes. Explicava a seus discípulos: “Os reis das nações as dominam, e os grandes exercem sobre elas o poder. O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida”. A única vez que Jesus foi coberto de vestes reais, foi durante o interrogatório de Pilatos. Puseram-lhe sobre os ombros um manto real com a coroa de espinhos, e como cetro na mão uma cana de bambu.
Mas os homens e mulheres que aceitaram a realeza de Jesus, fizeram-lhe um trono em seus corações. Paulo apóstolo dirá que Jesus é escândalo para os judeus, loucura para os pagãos. O mesmo Paulo escreveu: “Deus o exaltou e lhe deu o nome que está acima de qualquer outro nome: porque ao nome de Jesus todo joelho se dobre nos céus, na terra e debaixo dela, e toda língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus”.
É evidente portanto e singular o modo de ser rei de Jesus, e singular também o seu reino. A Pilatos agradou a resposta de Jesus: “O meu reino não é deste mundo”. Não é um concorrente perigoso. Jesus rei não guerreia com exércitos a posse do mundo. O seu reino compromete as pessoas concretas no seu coração. Projeta-se no futuro: nesta existência e na outra.
Se olharmos bem, o reino de Jesus é resposta de Deus às inquietudes do espírito humano insatisfeito, inquieto com a idéia da morte, do fim de tudo. O reino é resposta explícita de Deus à necessidade irreprimível do coração humano, sedento de infinito. O reino de Jesus não se encontra nos mapas do mundo, mas na geografia do espírito. Este reino singular requer de seus cidadãos, os cristãos, coisas não habituais e imprevisíveis. Manda aos seus uma conquista toda espiritual, toda interior, dominar-se, vencer as forças do egoísmo, do instinto da violência. Vitória sobre o pecado, sobre o mal. “Reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz”.