Dom Dirceu de Oliveira Medeiros  
Bispo de Camaçari (BA)

 

Ainda ressoa em nossas comunidades aquele anúncio pascal festivo: O Senhor Ressuscitou Verdadeiramente, Aleluia! Tempo propício para resgatarmos a centralidade do Cristo Ressuscitado. São Paulo vai dizer que sem Ele, o cordeiro que venceu morte, tudo perde o sentido. Textualmente diz: “se Cristo não ressuscitou, vã é nossa pregação e vazia vossa fé.” (1Cor 15, 14).  

Vale lembrar que o Cristo Ressuscitado não é um devaneio de uma comunidade entorpecida pela experiência de um aparente fracasso, nem uma propaganda criada por um grupo de fanáticos. Nós cremos a partir da experiência da comunidade apostólica, das aparições do Ressuscitado, as testemunhas oculares, aqueles que viram o Senhor e mais que isso tocaram em seu lado aberto. O discípulo amado, aquele que recostou a cabeça no peito do Salvador, na última ceia “viu e acreditou”. (Jo 20, 8).  

Se é fato que não o vimos e nem o tocamos, por outro lado podemos experimentar a sua presença forte em nossas comunidades, nunca individualmente. A Eucaristia é um lugar privilegiado para se experimentar a luz do Ressuscitado. O ponto de partida é fé e o testemunho dos apóstolos, porém, há algumas evidências da crítica textual que poderiam ser elencadas como uma espécie de “prova material” da Ressurreição de Cristo.  Vejamos algumas evidências baseadas na crítica textual que apontam que os evangelhos não utilizam recursos de propaganda. 

Esta ideia da Ressurreição era algo inaceitável para época. Seria mais palatável aos contemporâneos dos apóstolos aceitarem as ideias que circulavam na época como aquelas advindas dos filósofos gregos que apontavam para algo distinto, tais como a alma indo ao Éon, a transmigração da alma de um corpo a outro etc.  

Os relatos do Evangelho não apontam para uma propaganda, pois afirmam algo, a Ressurreição de Cristo, que era algo inaceitável para a época. Aqueles que anunciavam a Ressurreição sofreram forte perseguição em decorrência deste anúncio. 

O testemunho primeiro da Ressurreição é dado por uma mulher. Alguém que quisesse construir uma narrativa convincente ou transformar uma mentira em verdade nunca se apoiaria no testemunho de uma mulher, Maria Madalena, uma vez que o testemunho de uma mulher nada valia naquele contexto. 

Jesus Ressuscita ao terceiro dia. Os judeus consideram que até o terceiro dia você poderia ter uma espécie de coma e voltar. Se a comunidade primitiva quisesse construir uma narrativa convincente não colocaria o terceiro dia, mas sim a partir do quarto como no caso de Lázaro. 

Contamos também com um testemunho extra bíblico, a saber, o do historiador judeu Flávio Josefo, que remonta ao primeiro século: 

 Acerca deste tempo, lá viveu Jesus, um homem sábio, […]. Pois foi ele quem realizou obras surpreendentes. […] Ele conquistou muitos judeus e muitos dos gregos. Ele era o Messias. […] Pilatos condenou-o à cruz […]. Ele apareceu-lhes durante o terceiro dia de sua volta à vida, pois os profetas de Deus tinham predito estas coisas e outras mil maravilhas sobre ele. 

Os argumentos acima, baseados na crítica textual, evidenciam que não se tratou de uma propaganda, da criação de algo que poderia encontrar um terreno favorável à sua disseminação. Pergunto: será que gerações inteiras de cristãos se submeteriam à perseguição e a morte em favor da defesa de algo que fora criado e que não encontrava acolhida na cultura da época? Feliz Páscoa! 

 

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