Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
Celebramos com piedade e júbilo as alegrias pascais. E agora, que legado levamos para nossa vida, nossa espiritualidade e nosso cotidiano? As celebrações litúrgicas não são um hiato ou uma fuga das realidades humanas pessoais e sociais. Elas devem nos alimentar e conduzir para um modo de viver, no seguimento de Jesus Cristo e no empenho decidido pelos valores que brotam do Evangelho.
Nas celebrações da Semana Santa e Páscoa, revivemos e atualizamos uma certeza que, como cristãos católicos, carregamos: o que aconteceu a Jesus de Nazaré, em Jerusalém, há dois mil anos, não é somente um fato histórico a ser recordado. É muito mais, é a certeza de que aquele que foi injustamente crucificado, vítima de uma violência que sobre ele se desencadeou, está vivo, ressuscitado, como nos testemunham seus seguidores e as narrativas evangélicas das suas aparições. Ele é o Crucificado-Ressuscitado. Carrega consigo as marcas de sua história, as chagas, como faz questão de mostrá-las aos ainda incrédulos apóstolos: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu!” (Lc 24,39). Cada uma das aparições do Ressuscitado repete esta mesma dinâmica, da iniciativa de Jesus que vai ao encontro dos discípulos, apresenta-se, reanima sua fé e os envia em missão, para testemunhá-lo. Este é o motivo de nossa confiança e fonte de segurança nos caminhos da vida: Ele caminha conosco. A experiência narrada no Evangelho de Lucas dos dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35) se repete com cada batizado. Como a estes discípulos, às vezes desanimados e carregando o fardo de suas preocupações, o Ressuscitado se aproxima, caminha junto, ouve atentamente e, com sua Palavra reanima, aquecendo o coração (cf. Lc 24,32) e partindo o pão. O tempo pascal é um convite para que cada cristão o descubra novamente vivo em sua vida, em sua família, em sua comunidade de fé, para ser missionário e testemunha dele no mundo.
Esta certeza de que o Crucificado-Ressuscitado está sempre conosco é fonte de alegria e de esperança. A imagem da luz do Cristo Ressuscitado, que iluminou aos poucos a noite da Vigília Pascal que celebramos, é sinal do que nós somos no mundo, como Jesus já havia dito aos discípulos: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,14). Fomos iluminados por Cristo e somos convidados a levar esta luz a todos os lugares onde formos. “As trevas foram vencidas, Cristo Ressuscitou”, cantamos. De fato, na ressurreição do Crucificado confirmou-se tudo o que ele havia vivido, ensinado e realizado. Podemos apostar, com esperança, numa vida reconciliada; numa sociedade que construa caminhos de diálogo e paz; que cessem as hostilidades e violência; que ninguém seja descartado e se sinta sobrando. A força de vida nova que parte da ressurreição atinge toda a criação, pois “a criação alimenta a esperança de ser, ela também, liberta da escravidão da corrupção, para participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus. Até agora, toda a criação geme e sofre dores de parto” (Rm 8,20-22).
Enfim, o Ressuscitado que caminha vivo conosco, como fez aos discípulos, se apresenta e nos deseja: “A paz esteja convosco” (Lc 24,36). Cheios de sua paz, podemos ser construtoresda paz. Boa caminhada pascal a todos.