O santo Sudário, normalmente guardado numa urna preciosa e mostrado ao público apenas em ocasiões especiais, poderá ser visto novamente na Catedral de Turim (Itália), de 10 de abril até 23 de maio, onde está exposto para marcar o Ano Sacerdotal. Serão mais de 2 milhões de peregrinos a passar diante do “lençol” de linho que, segundo o Evangelho, cobriu o corpo de Jesus no seu sepultamento (cf Mc 15,46). No relato da ressurreição, também se faz referência ao lençol, que foi encontrado no túmulo vazio (cf Lc 24, 12).
Sobre a autenticidade do Sudário há intermináveis discussões; há quem a negue, mas também há muitos estudos sobre o sólido fundamento da tradição e da veneração ligadas ao Sudário. Nele aparecem impressas, como em negativo fotográfico, as marcas da paixão sobre o corpo sem vida de Jesus: o rosto ensagüentado, a cabeça ferida pela coroação de espinhos, as costas marcadas pelos açoites, o peito furado pela lança, as mãos e os pés cravados pelos pregos. Artista ou pintor nenhum poderia tê-lo produzido.
Também eu tive a graça de celebrar na Catedral de Turim, no dia 14 de abril passado, diante do sagrado pano original, exposto à veneração do povo; impressionou-me o clima de oração e meditação das pessoas e a quantidade de crianças e jovens que passam diante do Sudário, recebendo uma autêntica catequese.
O santo Sudário, testemunha eloquente da paixão de Jesus e da atrocidade dos seus sofrimentos, confirma o que também narram os Evangelhos. Jesus carregou em seu corpo o sofrimento da humanidade; fez-se solidário com os mais humilhados da terra, desceu até o mais profundo do desprezo à dignidade humana: “Rosto humano de Deus”: Na sua condição humana, o Filho de Deus se fez servo de todos, foi humilhado até a morte, e morte de cruz (cf.Fl 2,6-8). Foi por amor a todos nós que s fez solidário com todos, também com os últimos dos últimos da terra. Só um amor sem medida, um coração voltado inteiramente para os míseros (“misericórdia”) foi capaz de fazê-lo. Assim, também mostrou o valor infinito e impagável de cada ser humano.
Mas o Sudário é também um testemunho da ressurreição de Jesus. Os anjos anunciam às mulheres, que foram ao túmulo, bem cedo, no primeiro dia da semana: “Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo? Mão está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24,5-6). Pedro e João entraram por primeiro no túmulo de Jesus e constataram que estava vazio; as faixas que envolveram Jesus estavam no chão e o pano que cobrira o rosto de Jesus estava enrolado, num lugar à parte” (cf Jo 20, 8-9).
A exposição do sagrado pano tem o sentido de um anúncio pascal: aquele corpo chagado, que deixou as marcas de sua morte no lençol de linho e seda, não permaneceu na morte, mas, passou da morte para a vida transfigurada em Deus! Aquele rosto sofrido do Sudário é também o “rosto divino do homem” e revela a vocação suprema de todo ser humano: passar da morte à vida eterna, resplandecente é gloriosa. A maldade humana, que inflige sofrimentos cruéis ao próximo, não tem a última palavra, mas o amor, a solidariedade e a vida; a morte foi vencida por Aquele que nos amou “até o fim” e entregou a sua vida por nós sobre a cruz.
Desde o dia 17 de abril, também na Catedral da Sé, aqui em São Paulo está aberta uma exposição sobre o Sudário, inclusive com uma cópia autêntica do sagrado lençol. É uma boa oportunidade para que muitas pessoas tenham um contato próximo com a realidade do Sudário e com seu significado. É bem verdade que nossa fé não depende da autenticidade do Sudário e não está baseada num objeto de devoção, como o próprio Sudário, os pregos da cruz de Cristo ou algum objeto de devoção. Nossa fé nasce do encontro com Deus, por meio de Jesus Cristo ressuscitado, no dom do Espírito Santo. Sua palavra anunciada e testemunhada pela Igreja tem a força de despertar a fé e a adesão a Deus. Mas também é verdade, que lugares santos e objetos de veneração podem ser meios através dos quais o Espírito Santo, misteriosamente, nos conduz ao encontro com Cristo e com Deus.
Convido, pois, a todos os que puderem passar pela Catedral da Sé, nesses próximos dias, a contemplarem por alguns instantes a cópia do santo Sudário, tentando ver e encontrar Aquele que esteve envolto naquele lençol e nele deixou impressos os sinais de sua paixão; lembre-se cada um, porém, que esse pano fala do túmulo vazio; sua contemplação leve ao encontro com o próprio Jesus Cristo ressuscitado que, ainda hoje, vindo ao nosso encontro de muitas maneiras, nos diz: a paz esteja contigo!
