Dom Lindomar Rocha Mota
São Luís de Montes Belos (GO)
Nos dias em que percorremos as narrativas da Páscoa, testemunhamos o estupor dos discípulos ao encontrarem novamente o seu Senhor.
As memórias são esticadas até o limite para atualizar as entrelinhas da pregação de Jesus, e encontrar os ecos que dessem sentido ao fato de que o Senhor continuava vivo.
Medo, incredulidade, desconhecimento, são apenas alguns dos sentimentos daqueles que, como Maria Madalena e os apóstolos, viram o Ressuscitado. A alegria chega mais tarde, e preencherá sucessivamente esse espaço com a realização do impossível.
Entretanto, Jesus continua no meio deles. Por cinquenta dias, como estamos acostumados a testemunhar, Jesus continua com eles. Dentro de casas, no desafio da pesca que parece infrutífera, ora na estrada e no caminho de Emaús.
São muitos os momentos que narram o encontro de Jesus com os seus, e em todos eles segredos são revelados para fortalecer o coração de todos nós.
Jesus Ressuscitado oferece a Paz! Paz a vós é o mantra do encontro. Não a paz que o mundo lhes dá, a minha Paz é o que vos dou.
Essa segunda Paz é o segredo do manifesto Pascal, porque não se resume em enunciados, mas sim, na certeza factual de que se pode vencer até mesmo a morte.
A Paz sussurrada aos ouvidos se torna certeza para aqueles que agora vivem. Do espanto do primeiro encontro com o indizível o coração é curado e a força insuportável do amor abre estrada para a pregação e o perdão.
Parcialmente entendida no primeiro sussurro, a Paz que Jesus dá faz dos discípulos pessoas corajosas, desafiadoras dos perigos e pregadoras em praça pública. Tão destemidas ficaram que, de dedo hirto, Pedro recordou aos carrascos de Jesus que Ele agora estava vivo.
Mas não é apenas para esnobar os seus executores que Jesus continua a formar os discípulos. Formar na experiência da Ressurreição é descer aos recônditos mais distantes do coração humano, retirando dele uma humanidade tão pura que o faz assemelhar-se ao divino.
A Paz recebida pela presença de Jesus, que Vive, aprofunda-se em acalento, perdão e misericórdia. Pedro, após ter compreendido este segredo, depois do Pentecostes, ao comentar a culpa pela morte de Jesus dirá: “eu sei que vós agistes por ignorância, assim como os vossos chefes” (At 15,17).
A Paz concebida no desenrolar da Páscoa, por tanto, não somente é uma coisa bela, mas um acontecimento que faz quem dela experimentou também capaz de fazer coisas belas e alcançar a dimensão do amor e perdão divinos. Esse é o segredo do Ressuscitado!