A palavra “sinal” é de muito uso na Sagrada Escritura. Seu significado transcende a inteligência humana: os milagres, os mistérios da nossa fé e o próprio dom da fé. Com referência à Cruz: sinal que indica a ação salvífica de que foi instrumento; sinal da maior prova do amor de Deus pela humanidade. Está presente, ostensivamente, no alto das cruzes das nossas igrejas, em monumentos, em muitos ambientes do nosso quotidiano. Muitas e muitas pessoas trazem-na consigo, seja como simples adereço, seja como expressão de fé. Há os que se sentem incomodados com sua presença nos edifícios públicos. Mas o grande sinal, o sol que jamais tem ocaso, é o próprio Jesus, “a imagem visível do Deus invisível.” (Cl 1,15)

Para o evangelista João, é na Cruz que Jesus Cristo se diz glorificado. Nela, “o Verbo que se fez carne e habitou entre nós”, foi elevado da Terra, atraindo todos a si (Jo 12, 32) para que todos vejam até onde vai a maldade humana e vejam também até onde vai o amor de Deus pela humanidade. É o amor que faz todos serem atraídos por Ele: “Deus amou tanto o mundo que entregou o Filho único, para que todo o que nele crê, não morra, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3,16) A Cruz deixou de ser sinal da humilhação e ignomínia e tornou-se título de glória, primeiramente para ele e depois para nós, seus discípulos. Jesus identifica o destino do discípulo com o dele. Assim ele afirma: “Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” (Mt 16,24)

Por outro lado, o discípulo pode exclamar com o apóstolo Paulo: “Quanto a mim,  que eu não me glorie a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo.” (Gl 6, 14) Na Cruz, Cristo fundou sua Igreja deixando fluir “sangue e água” do seu coração traspassado (Jo 19, 34). Nossa fé se dirige ao Crucificado cuja Cruz é sinal de salvação e “árvore da Vida” (Ap 22, 14).

O cristão, ao fazer o sinal da Cruz sobre si mesmo, está dizendo: No poder de Deus Pai, Filho e Espírito Santo abraço a Cruz da minha salvação. Sim, com este gesto, ao levar a mão da testa ao peito, em linha vertical, e do ombro esquerdo ao direito, em linha horizontal, o cristão se sente abraçando a Cruz da sua salvação e sendo abraçado por ela. Está professando sua fé no mistério da Cruz: Jesus Cristo, o enviado do Pai, nascido da Virgem Maria por obra do Espírito Santo, oferece na Cruz sua vida pela vida do mundo.

Há pessoas que fazem o sinal da Cruz instintivamente, diante do que está por acontecer ou já aconteceu, como se fosse um cacoete. Deixa a impressão de estar espantando mosca do rosto com a mão. Com certeza, melhor este cacoete que outros, melhor até que nada, porque está assinalando ser cristão. Falta-lhe – quem sabe – tomar consciência da dignidade do gesto mal traçado e deselegante. As palavras que o acompanham são o que de mais sublime seus lábios podem proclamar ou balbuciar, porque nascem de um coração onde habita a Santíssima Trindade.

Este gesto tem sentido de consagração de nossa vida a Deus, a quem reconhecemos pertencer. Somos batizados exatamente com este sinal que significa e realiza, pela graça santificante, nossa filiação adotiva de Deus mediante Jesus Cristo. No sinal da Cruz que fazemos em todas as ações da vida, nas orações, no trabalho e no descanso, nas alegrias e nas tristezas e – por que não dizer – nos acontecimentos cruciais da vida, recordamos as promessas batismais e sentimos que estamos em Deus e Ele em nós.

A História da Igreja registra: Constantino, imperador romano do século IV, filho de Santa Helena, descobridora da verdadeira Cruz de Cristo, antes de enfrentar uma de suas batalhas teve uma visão: apareceu-lhe no céu uma cruz luminosa trazendo estas palavras: “Com este sinal vencerás”. Na vida do cristão, estas palavras estão escritas no olhar da fé.

Dom Eduardo Koaik

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