Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
O Sínodo da Sinodalidade
Caminho de Reflexão e Renovação na Igreja Católica
O Sínodo da Sinodalidade, promovido pelo Papa Francisco, é um processo de escuta e discernimento coletivo que visa repensar e revitalizar o papel da Igreja Católica no mundo contemporâneo. Iniciado em 2021 e previsto para concluir neste ano de 2024, o Sínodo tem como tema central “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão”, e propõe um caminho de reflexão onde todos os membros da Igreja — leigos, religiosos e o clero — são chamados a participar ativamente, escutando-se mutuamente. Esse processo é visto como um dos movimentos mais significativos e inclusivos da Igreja nos últimos tempos, buscando promover uma Igreja mais participativa, aberta ao diálogo e atenta às vozes de todos. Inicia com um retiro, uma vigília de oração e com a missa de abertura. Antes da semana conclusiva terá outro retiro pedindo as luzes do Espírito Santo. Não é uma convenção de profissionais e sim da Igreja à escuta do Espírito Santo.
O termo “sinodalidade” vem do grego syn-hodos, que significa “caminhar juntos”. No contexto eclesiástico, refere-se à prática de diálogo e colaboração entre todos os membros da Igreja, visando a corresponsabilidade nas decisões. Para o Papa Francisco, a sinodalidade é uma característica essencial da Igreja e uma oportunidade para reformar suas estruturas e práticas, de modo a torná-la mais inclusiva e centrada na escuta mútua.
O Papa Francisco enfatiza que a sinodalidade não é um simples método de governança, mas sim uma dimensão fundamental da vida e da missão da Igreja. Ela envolve a participação de todos os fiéis, reconhecendo a diversidade de dons e experiências dentro do Corpo de Cristo. Nesse sentido, o Sínodo da Sinodalidade é um chamado à escuta atenta e ao discernimento conjunto, para que a Igreja possa responder melhor aos desafios contemporâneos.
O processo sinodal, que inclui consultas em todas as dioceses do mundo, é um marco na história da Igreja. Diferente de sínodos anteriores, onde as decisões eram geralmente tomadas pelos bispos e cardeais, o Sínodo da Sinodalidade busca envolver uma gama mais ampla de vozes, incluindo mulheres, jovens, minorias e leigos, que tradicionalmente não tinham tanto espaço nos processos decisórios da Igreja.
O Sínodo da Sinodalidade foi dividido em três fases principais: a fase diocesana, a fase continental e a fase universal. Cada uma dessas etapas tem um papel essencial na escuta e no discernimento da Igreja em diferentes níveis.
Fase Diocesana: Iniciada em outubro de 2021, essa primeira fase ocorreu nas dioceses de todo o mundo. Cada comunidade local foi incentivada a realizar consultas para ouvir as preocupações, esperanças e críticas dos fiéis sobre a vida da Igreja. A intenção dessa fase foi reunir as experiências de vida dos católicos em suas realidades locais, permitindo que a diversidade de contextos culturais, sociais e econômicos fosse ouvida e valorizada.
Fase Continental: A fase seguinte, iniciada em 2022, envolveu uma síntese dos relatórios diocesanos para refletir as realidades de cada continente. Essa fase é crucial para destacar as semelhanças e diferenças entre as diversas partes do mundo católico, ajudando a Igreja a identificar áreas de convergência e desafios específicos em cada contexto cultural.
Fase Universal: A fase final, que já teve uma primeira sessão no ano passado, culmina agora em outubro de 2024, será marcada por uma grande assembleia de bispos e outros representantes em Roma. Nessa etapa, as reflexões e descobertas das fases anteriores serão consolidadas, com o objetivo de apresentar propostas concretas para a renovação da Igreja. Essa fase será também um momento de discernimento e de tomada de decisões, que poderão influenciar o futuro da Igreja nos próximos anos.
O Sínodo da Sinodalidade concentra-se em três temas centrais: comunhão, participação e missão. Esses pilares guiam a reflexão e o diálogo em todos os níveis do processo sinodal, com o objetivo de promover uma Igreja mais aberta, inclusiva e em constante renovação.
Comunhão: A comunhão está no coração da vida da Igreja. O Sínodo procura fortalecer os laços entre os fiéis e entre as diferentes comunidades eclesiais, valorizando a unidade dentro da diversidade. A comunhão não significa uniformidade, mas sim a busca por uma maior compreensão mútua, respeitando as diferenças culturais e sociais que existem dentro da Igreja. Nesse contexto, o Sínodo tem buscado abordar temas como a relação entre o clero e os leigos, o papel da mulher na Igreja, e as tensões geradas pelas diferentes perspectivas teológicas e culturais.
Participação: A sinodalidade promove uma participação mais ativa de todos os membros da Igreja, especialmente daqueles que tradicionalmente tiveram menos voz nos processos decisórios, como mulheres, jovens, minorias e pessoas em situação de exclusão social. A participação implica a corresponsabilidade de todos os batizados na missão da Igreja, refletindo a noção de que a Igreja não é apenas a hierarquia, mas o povo de Deus como um todo. O Sínodo busca, assim, romper com estruturas centralizadas de poder e abrir espaço para um diálogo mais amplo e inclusivo.
Missão: A Igreja é chamada a ser missionária em sua essência, buscando levar o Evangelho a todas as partes do mundo. O Sínodo da Sinodalidade reflete sobre como a Igreja pode ser mais eficaz em sua missão, especialmente em um mundo cada vez mais secularizado e marcado por desigualdades sociais e conflitos. A missão é entendida como um compromisso com o testemunho da fé cristã, mas também como um chamado à justiça social, à paz e à reconciliação entre os povos.
O Sínodo da Sinodalidade enfrenta desafios significativos, tanto internos quanto externos. Dentro da própria Igreja, há tensões entre diferentes grupos que possuem visões divergentes. Outro grande desafio é o engajamento dos fiéis leigos. Embora o Sínodo tenha se proposto a ouvir todos, o grau de participação em algumas regiões tem sido desigual.
Por outro lado, o Sínodo também representa uma grande esperança para a renovação da Igreja. O Papa Francisco tem insistido que o processo sinodal não é apenas um evento isolado, mas um “caminho”, uma forma de ser Igreja no futuro. O Sumo Pontífice vê a sinodalidade como a chave para uma Igreja mais autêntica, próxima das pessoas e capaz de responder aos desafios do nosso tempo.
Ao promover a escuta e o diálogo, o Sínodo pode ajudar a curar divisões dentro da Igreja e a revitalizar o seu papel missionário. No entanto, a verdadeira medida do sucesso desse processo dependerá da capacidade da Igreja de implementar de forma concreta as mudanças discutidas ao longo do caminho sinodal, mantendo-se fiel ao Evangelho enquanto responde às exigências de um mundo em rápida transformação.
O Sínodo da Sinodalidade representa uma oportunidade sem precedentes para a Igreja Católica refletir sobre sua própria identidade e missão em um mundo em constante mudança. Ao promover a escuta, a participação e a corresponsabilidade de todos os fiéis, esse processo sinodal aponta para uma Igreja mais inclusiva e em sintonia com as necessidades do tempo presente. Contudo, o sucesso do Sínodo depende da capacidade da Igreja de transformar as reflexões em ações concretas, fortalecendo a comunhão, a participação e a missão em todos os níveis.
Rezemos pela etapa final do Sínodo da Sinodalidade. Que o Espírito de Deus ilumine os padres sinodais para o bem da Igreja!