Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
Caros diocesanos. Em meio ao clima emocional do fim de ano, das férias e, sobretudo, do Natal com suas expressões simbólicas próprias, através de enfeites, luzes, troca de presentes, com ou sem pinheirinhos e presépios, surge inevitável e importante pergunta; – Por que tanto clima de festa e alegria? Quem é que merece tanta atenção que é capaz de emocionar crianças, jovens e adultos, até os corações mais insensíveis? Não existe outra resposta cristã que a vinda de Deus entre nós, na plenitude dos tempos: “O Verbo se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1, 14). Em Jesus Cristo encarnado se revelou o projeto de Deus que consiste em fazer a pessoa humana participante da sua vida divina. Com o nascimento do Menino de Belém a pessoa humana ganhou um rosto divino e Deus assumiu um rosto humano (cf. Bento XVI). Sem entender este mistério, o mundo ateu e secularizado optou, neste tempo do natal, pelo Papai Noel, uma figura mítica, fictícia ou imaginária, sem fundamento histórico, ao menos no modo como hoje é representado. Portanto, ao tentar-se substituir Jesus Cristo, torna-se uma figura enganosa, vazia de sentido teológico. Um 25 de dezembro sem a presença de Jesus Cristo não pode ser chamado Natal, pois, como a própria palavra o diz, é o dia do nascimento. De quem?
Em Jesus Cristo, o Verbo feito carne, nós nos tornamos irmãos e irmãs, formando a grande família dos filhos e filhas de Deus. Podemos assim falar em comunidade (comum unidade) ou em fraternidade (unidade de irmãos/ãs). Dentro dessa relação de amor a eucaristia torna-se o centro vital e unificador, a expressão máxima de união dos irmãos em Cristo, pois nela entramos em comunhão com o Filho de Deus e por Ele somos interligados com os Irmãos e as Irmãs. Por isso, nosso natal só poderá ser perfeito com a celebração eucarística ou, ao menos, com uma bela celebração da Palavra com distribuição da comunhão. Voltemos aos nossos templos, respeitando os distanciamentos, mas para celebrar o verdadeiro Natal, com presépios, pinheirinhos e, sobretudo, na união com o Salvador e os irmãos/ãs.
Certamente, ninguém de nós duvida que as celebrações do advento e do natal nos proporcionam tempo litúrgico privilegiado de encontro com Jesus Cristo, o Verbo, a Palavra feita carne, e com os irmãos e irmãs. Tempo em que nós cristãos sentimos, mais do que nunca, necessidade de paz, de fraternidade, de gratidão, de espírito de família, frutos desse encontro e convivência. Está entre nós, mais uma vez, esta oportunidade. Como diz o papa Bento XVI: “A Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré” (VD 12). Que toda a preparação do tempo do advento seja qual estrela-guia que nos conduza ao encontro do Salvador e Ele faça de nós dignos discípulos missionários seus, assim como foram José e Maria, os pastores de Belém e os magos do Oriente. Não queremos ser como Herodes, “assim como toda a cidade de Jerusalém” (Mt 2, 3b), que tramam para matar o Menino ou procuram distanciá-lo o mais possível, porque sentem nele um concorrente, uma ameaça, alguém que inquieta a sua consciência.
Que o Advento seja tempo de esperança, de feliz e piedosa expectativa e o natal torne-se a festa da alegria do encontro com o Senhor Jesus, que dá um novo e verdadeiro sentido à nossa vida; do encontro com os irmãos e as irmãs, no espírito de fraternidade que o Salvador veio ensinar e viver conosco. Feliz e Santo Natal!