Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

 

A leitura do Livro do Êxodo deste domingo mostra a face de um Deus compassivo e misericordioso para com os pobres exigindo a devolução do manto que tinha sido tomado como garantia, porque era o cobertor do desamparado (Ex. 22, 25-26). O amor ao próximo é inseparável do amor à Deus, e como afirma São João quem diz que ama Deus que não vê e não ama o irmão que vê, é um mentiroso.

A agenda da modernidade líquida, com a não verdade e a pós-moral tem se centrado nas questões de identidade e reconhecimento de grupos e setores da população, mas como propõe claramente Zygmunt Bauman (cf. Identidade), afasta-se das misérias humanas mais doloridas e amplamente majoritárias. Já Methol Ferré, um pensador latino-americano influente, defendeu que o relativismo é uma ideologia contra os pobres, porque é egocêntrica e autorreferente apostando somente no bem-estar individual. Richard Rorty, um pensador pragmático, acena que estas tendências da indústria cultural são incapazes de se engajar num projeto nacional ou numa política de Estado abrangente que vá além de interesses segmentados.

Hoje, de veras se discute muito em identidades de gênero, mas no entanto os hospitais continuam precários, a corrupção toma conta da política, o camponês na miséria e trabalho escravo, e a violência e o autoritarismo reduzem e cerceiam direitos. Pareceria segundo estes autores mencionados que a luta por justiça social foi reduzida a um excesso de batalhas por reconhecimento amparadas não raro por fundações corporativas. No nº 47 do documento de Aparecida se expõe de forma categórica está pressão easperada de direitos individuais e subjetivos, sem um esforço semelhante para garantir os direitos sociais, culturais e solidários, para efetivar a dignidade de todos(as)   combater a exclusão e desigualdade social cada vez mais pronunciada. O que se vê é que certas reivindicações seguem a lógica do mercado sem limites, desencumbindo-se da questão humanitária da vida povo e da interrogante do Deus da Aliança: onde dormirão os pobres? Deus seja louvado!

 

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