Os 200 anos do martírio heróico da Madre Joana Angélica

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

 

Os 200 anos do martírio heróico da Madre Joana Angélica, pela independência do Brasil

 No dia, 19/02/1822, as tropas portuguesas, que resistiam à independência, quiseram invadir o Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, na Bahia, encontrando, na porta, a Abadessa do Mosteiro, Madre Joana Angélica, que se opôs, com coragem, a seu ingresso. Foi assassinada, no ato, a golpes de baioneta, tornando-se a alma da luta pela independência, inspirando com sua atitude aos combatentes baianos, entre os quais duas mulheres: Maria Quitéria de Jesus, que se tornou a primeira soldado da pátria, e a escrava Maria Filipa, que liderava 40 mulheres, também escravas, enfrentando com bravura as tropas reacionárias.

A irmã Joana Angélica nasceu em Salvador, Bahia, no dia 12/12/ 1761. Em maio de 1782, com a idade de 20 anos, e a aprovação de Dom Antônio Corrêa, pois existia uma proibição de receber noviças para entrarem no mosteiro. No ano seguinte, se torna professa das religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição, ordem fundada em Portugal pela Irmã Beatriz Silas e Menezes. Desempenha vários cargos na comunidade religiosa: escrivã do Convento, Vigária e Abadessa, em dois períodos, de 1815-1817, e novamente em 1822, morrendo em cumprimento deste ofício de governo.

O mosteiro, acompanhando o seu povo, rezava e intercedia pelo bem comum e pelas causas da pátria nascente. Muitos acham que a independência foi uma simples mudança de condução, sendo tranquila e sem conflitos. Na verdade, a Bahia garantiu a independência com um exército popular entusiasmado, de mulatos, índios, caboclos, negros libertos, brancos pobres. Lideranças de fazendeiros, vereadores das câmaras municipais, padres, de Santo Amaro, Cachoeira, Inhambupe, Nazaré, antigos revolucionários da conjuração dos alfaiates de 1798.

Gente que sonhava com um trabalho, vida melhor e o fim do tráfico de escravos. Uma página da história que mostra claramente que irmãs, padres e frades, como o carmelita frei Caneca, se posicionaram junto ao seu povo, como os mexicanos Hidalgo e Morelos com os indígenas, os franciscanos no Uruguai, que foram expulsos pelos espanhóis em Montevidéu, aos gritos: “Vão embora para seus amigos, os gaúchos”. A Igreja e a Madre Joana Angélica souberam ouvir os gritos do seu povo! Deus seja louvado!

 

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