Estamos para terminar mais um ano em nossa história, uma oportunidade oferecida pela Providência de Deus para fazermos escolhas consistentes em vista de uma vida plena de sentido. Multiplicaram-se as opções, ampliaram-se os horizontes para a humanidade, abrem-se novas perspectivas, malgrado todas as misérias e mazelas existentes. Cada vez mais as responsabilidades são confiadas à nossa consciência, com a maravilhosa e desafiadora liberdade, dada por Deus ao nos criar à sua imagem e semelhança.

Alguns encaram a vida como prateleiras de supermercado, onde todos podem adquirir os produtos que lhes aprazem, sem maiores consequências. Nivela-se a religião, as definições éticas e morais, o valor da vida e o descarte de pessoas com incrível naturalidade. Fazer opções se transforma numa arma de dois gumes, podendo trazer desastres imensos para a própria humanidade, naquela que insistentemente se chama hoje de mudança de época. Escolher a partir de valores mais consistentes faz a diferença! As consequências para a vida das pessoas e dos grupos virão de uma forma ou de outra, e somos todos responsáveis justamente por esta época!

Para a Igreja, correm os dias do Advento, preparação para o Natal de Jesus Cristo, oportunidade de revisão de vida, olhar esperançoso para o ano que vai começar dentro de poucos dias, desafio das escolhas diante da sociedade pluralista em que vivemos. É maravilhoso e desafiador ser cristãos neste tempo! E Deus, que nunca se repete mas é portador da novidade perene, maior do que todas as invenções e invencionices de cada época, sempre tem a reserva de criatividade, proporcionando-nos as luzes necessárias no tempo que nos dá de presente.

Uma figura bíblica de grande significado é oferecida pela Igreja durante estes dias, João Batista. Seu pai Zacarias entendeu a missão que lhe foi confiada: “E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à frente do Senhor, preparando os seus caminhos, dando a conhecer a seu povo a salvação, com o perdão dos pecados, graças ao coração misericordioso de nosso Deus, que envia o sol nascente do alto para nos visitar, para iluminar os que estão nas trevas, na sombra da morte, e dirigir nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,76-79). Sua missão foi preparar caminhos, abrir estradas!

Os caminhos de Deus passam pelo coração humano. Maior do que qualquer conquista técnica ou científica é a pessoa humana, com seus mistérios e interrogações. As pessoas venham a ser ouvidas, acolhidas e amadas, no intrincado novelo de suas escolhas diárias. Faz-se a luz quando o amor se faz presente e aprendemos a ir ao encontro dos que se sentem angustiados e oprimidos. Presença e palavra de consolação não ficaram fora de moda. Ao contrário, este é o caminho de Deus para chegar às pessoas e para que estas encontrem o rumo que as conduz a ele e à felicidade.

Quando veio João Batista, o Evangelho indica que as pessoas acolhiam seu convite à conversão (Cf. Mc 1,1-8). Um sadio realismo mostra que nem todas as opções feitas conduzem à vida verdadeira. Sim, podemos errar e erramos mesmo! Olhar-se com o espelho da Palavra de Deus possibilita o reconhecimento das cabeçadas que damos e o desejo de mudança. Todos nós, sem exceção, podemos empreender a estrada da mudança para melhor, retificando a estrada feita: “Todo vale seja aterrado, toda montanha, rebaixada, para ficar plano o caminho.

Acidentado e reto, o tortuoso” (Is 40,4). A experiência da Igreja oferece a pregação da palavra de conversão, mas também o gesto do perdão, o sacramento da Penitência, com o qual a confissão da condição de pecadores e dos próprios pecados abre o horizonte para uma vida nova. São muitas as pessoas que redescobrem, pelas estradas da vida, a grandeza do perdão que vem de Deus e, incrível, passa pelo ministério de um outro pecador, o confessor!

Os caminhos de Deus passam pelas experiências positivas de uma vida nova. Existem verdadeiros oásis de relacionamento mais humano, respeito, valorização da vida, abertura à vida nascente, carinho com as diversas gerações e suas exigências. Entre nós se multiplicam comunidades autênticas, alternativas sem esquisitices, nas quais a Palavra de Deus é acolhida, os pequenos são amados, a vida circula. E é gente que não faz muita propaganda, mas vive! Vale a pena olhar ao redor e identificar espaços que podem ser chamados de “nova terra” (2 Pd 3,13). É um novo mundo possível, onde uma vida santa se espalha. E aqui é possível dirigir-nos a muitas pessoas que se sentem oprimidas pelo peso do que pretende ser novo e é maldade destruidora, com as alternativas correntes, de matriz ideológica, sempre de plantão! As pessoas querem ser diferentes, mas para melhor, não se afundando na lama do egoísmo que continua a destruir pessoas e famílias.

Os caminhos de Deus passam pela história, com suas idas e vindas. Basta verificar o arco de nossa existência pessoal para constatar o quanto pudemos mudar e crescer na direção do bem, mesmo com as dificuldades que se apresentaram. Sabemos que “Deus usa de paciência para conosco” (2 Pd 3,9). Isso nos faz olhar para as outras pessoas sem desespero, com calma, capazes de provocá-las positivamente, amando-as sem julgamento, tendo a coragem de abordá-las de forma diferente, aguardando o tempo de Deus para sua mudança. E podemos mudar a nós mesmos em primeiro lugar, o que pode ser o caminho para a transformação dos outros.

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