Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador (BA)

            A vivência da fé deve ocorrer nas várias dimensões da vida, incluindo o vasto e complexo campo social. Segundo as palavras de Jesus, quem o segue é chamado a ser “sal da terra” e “luz do mundo” (Mt 5,13-24). O cristão está inserido na sociedade; vive no mundo sem ser do mundo. Por isso, não pode ficar indiferente ou insensível ao que se passa na sociedade, especialmente, omitir-se ou acomodar-se diante da gravidade e da urgência dos problemas sociais. Os rumos da sociedade dependem da postura e da contribuição de cada um e de cada comunidade eclesial.

            Para ser sal e luz é preciso interessar-se pelo campo social, refletir e atuar na construção de uma sociedade justa e solidária, segundo as exigências do Reino de Deus, nos diversos setores: política, economia, educação, comunicação social, mundo do trabalho, etc. Os cristãos não devem reduzir sua atuação à vida interna da Igreja, aos ministérios e serviços dentro da comunidade. Seu campo maior de atuação é o mundo, com desafios e potencialidades de cada contexto social. O anseio pela fraternidade e pela justiça, que motiva e orienta o compromisso cristão na transformação da sociedade, encontra-se no coração do Evangelho. É consequência da fé professada e celebrada em comunidade. Portanto, é expressão de mística cristã, exigência do seguimento de Cristo e da vida no Espírito. Nas feições concretas dos homens e mulheres marcados pelas situações de sofrimento, o cristão é chamado a reconhecer as feições sofredoras de Cristo, que nos interpela.

            Diversamente de outras denominações religiosas, a Igreja Católica não adota posição político-partidária, mas incentiva os seus membros, leigos e leigas, a participarem responsavelmente da política. Ela não propõe um modelo particular de sistema social, nem pretende oferecer soluções técnicas para os problemas sociais; encoraja os cristãos leigos e leigas a participarem da elaboração de projetos sócio-políticos e a fazerem sua opção político-partidária de modo coerente com a fé professada. Iluminada pela Palavra de Deus, a Doutrina Social da Igreja oferece critérios evangélicos e éticos para o discernimento da atuação política e para a elaboração de projetos sociais.

             É permanente e muito atual o desafio de atuar na política de modo coerente com o Evangelho, respeitando a justa autonomia das instituições religiosas e políticas e permanecendo fiel à própria identidade. A ênfase no diálogo como caminho de fraternidade e de paz, tantas vezes ressaltado pelo Papa Francisco, não implica na negação ou dissolução da própria identidade; ao contrário, o diálogo exige o respeito à identidade.

                Ao invés do proselitismo, do corporativismo ou da pretensão de dominação, devem nortear o agir político cristão o respeito ao outro, o diálogo e o espírito de serviço.

 

 

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