Os futebolistas que nunca venderam sua consciência

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)       

Tem-se afirmado, muitas vezes, que nos tempos atuais o que importa e manda no futebol é o dinheiro e que os jogadores só almejam vantagens contratuais, preferindo o time ou seleção que pague mais. Na verdade, desde a profissionalização deste esporte, a tentação de fazer carreira ganhando prestígio, fama, imagem e muito dinheiro sempre existiu, mas também a história mostra craques de ponta, que foram fiéis a princípios e valores humanos que nunca traíram.

Gostaria de iniciar mencionando o “Pelé do Danúbio”, Mathias Sindelar, filho de uma humilde família judia de origem tcheca, e que jogava no Wunderteam da Áustria. Quando Hitler, em 1938, anexou a Áustria, quis comemorar tal acontecimento com um jogo da Alemanha contra o time de Mathias. Este faz um golaço que derrota a Alemanha de 2 x 0 comemorando efusivamente na cara dos nazistas.

Foi convocado a jogar pela seleção alemã, ele respondeu se aposentando. Hitler não quis saber de nada, e mandou persegui-lo. Foi encontrado morto com sua esposa. Benito Mussolini, o fundador do fascismo, para ganhar a Copa de 34, criou uma política de repatriação de “oriundis”, filhos de italianos, que fossem craques em outros lugares competitivos (Brasil, Uruguay, Argentina, entre outros), pagando somas volumosas, com fama e destaque.

Os uruguaios José Nazassi e Carlos Corazzo (campeões da Copa de 30) negaram-se com veemência a deixar a Pátria querida. Já a história de Isidro Lángara foi diferente; até explodir a guerra civil espanhola era o melhor jogador desse país. Estava numa turnê para angariar fundos para a Espanha republicana, quando soube que a Legião Condor alemã, aliada ao golpista Franco, bombardeou Guernica e Euskadi (a sua região de origem), e tomou Bilbao e o país Basco, toda a equipe pediu asilo no México. Franco, desgostoso, mandou que voltassem ou seriam suspendidos, Isidro nunca voltou e foi jogar no São Lourenço de Almagro, na Argentina.

Na segunda Guerra Mundial, na frente oriental, a Alemanha de Hitler tinha tomado Kiev, naquela cidade o goleiro do Dynamo, junto a outros prisioneiros russos, fundaram o F. C. Start, que ganhava todos os jogos. Os nazistas propuseram um desafio: que o Start enfrentasse o Flakelf, time da Luftwaffe. Na primeira partida o Start se impôs por 5 x 1. Os nazistas quiseram a revanche, o que aconteceu.

Terminaram perdendo o primeiro tempo 3 x 0, então o comandante alemão visitou o vestuário do Start e ameaçou que se não perdessem o jogo haveria consequências fatais. No segundo tempo, graças a arbitragem totalmente parcial de um árbitro nazista, que deixava os seus conterrâneos baterem com violência, o escore chegou 3 x 3, mas o Start, de uma forma heróica, reagiu e ganhou de 5 x 3. Todos os jogadores do Start foram fuzilados depois da partida.

Para finalizar, uma de Obdulio Varela, o capitão de 50; quando no time do Uruguay, que ele jogava, fez um contrato de propaganda a ser usado nas camisetas, ele foi o único que se negou, alegando: “já se foi o tempo que te colocavam uma argola no nariz e te puxavam como escravo!” Estas breves narrativas nos motivam a honrar atletas que não só jogam bem, mas pensam bem e lutam para que a humanidade seja melhor, mais justa, fraterna e solidária. Deus seja louvado!

 

 

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