Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

Iniciamos o tempo de advento que prepara, na alegre expectativa, o Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mergulhados que estamos numa pandemia, que teima em não nos deixar, e uma apatia política que não conseguiu reencantarnos e nos reconciliar com a disputa eleitoral, somos convidados a renovar esta virtude teologal. O grande poeta cristão, Charles Peguy, afirmava que Deus não se admira tanto com a fé dos seres humanos, nem sequer com a caridade, mas o que realmente o enche de admiração e emoção é a esperança das pessoas.

Ele escrevia: “Que aqueles pobres filhos vejam como são as coisas e que acreditem que será melhor amanhã de manhã”. Ele tem razão, porque o que nos faz caminhar e compartilhar a viagem do desejo e da utopia de dias melhores e mais felizes é este impulso do coração que Ernest Bloch chamava de princípio esperança e que São Bernardo denominava da inquietação pelo Reino. Somos feitos para o infinito, a comunhão com o abismo de amor que é Deus, por isso não desistimos, não nos entregamos, mas resistimos na esperança, sabendo que o que aguardamos não é ilusório, mas sonho de Deus.

Esta pandemia, que quebrou muitas coisas materiais, prejudicou nossa saúde e causou muitas perdas, será derrotada pela esperança, pois é na hora do forno e do cadinho que veremos a luz despontar. Levamos em Cristo um mundo novo em nossos corações, apesar de tanto discurso vazio, de tanta promessa furada, do ódio cristalizado, a ternura, a justiça e o amor terão a última palavra. Ninguém se salva sozinho, a esperança é profundamente comunitária, sonho que se sonha junto, como dizia Dom Helder Câmara, está marcado para acontecer.

O que nos faz avançar como Dom Quixote, o cavaleiro do impossível, é acreditar que tudo pode mudar com a força dos ideais, que a pessoa humana vale o tamanho do horizonte do que almeja para o bem comum. Que Maria nos ensine a caminhar sempre na esperança, a vigiar acordados e identificar os sinais do amanhã, do futuro e da

promessa na nossa jornada cotidiana. Como exortava o Papa Francisco, na JMJ 2013, aos jovens, no Rio de Janeiro: “Não deixeis que vos roubem a esperança”. Louvado seja Deus!

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